180 Selo Fonográfico: A Mágica do Vinil

Grande novidade no mercado fonográfico nacional. O 180 Selo Fonográfico, lançado no início de setembro, promete (de verdade) produzir um catálogo de alta qualidade e em alta fidelidade de som. O Selo começa arrebatador, lançando uma edição em vinil do álbum Baixa Augusta (2011), da Cachorro Grande.

O fundador do selo, Rodrigo de Andrade (AKA Garras), manja muito do assunto. É, além de audiófilo, apresentador do Trincheira, o programa de rock da Rádio UPF, idealizador do zine Punhetão e do site Os Armênios (in memorian). Mais do que só ouvir a música, Garras explica na entrevista logo abaixo a diferença entre apreciá-la em um formato digital e analógico, além do fetiche em vinis, sobretudo em relação ao produto palpável, como o encarte do LP, o material utilizado para a fabricação e tudo mais.

A alta fidelidade de som dos LP’s em relação aos formatos digitais é o grande trunfo que mantém o formato vivíssimo no mercado. Agora, se você acha que a diferença entre um mp3 e o som de vinil de 180 gramas é imperceptível, envie um e-mail para 180selofonografico@gmail.com. O pessoal do Selo possui uma caderneta com ótimos otorrinolaringologistas espalhados pelo país que com certeza o ajudarão em seu problema auditivo.

Leia a entrevista abaixo com o Garras e visite a loja: http://selo180.com/

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“Do início ao fim, queríamos que nossos discos oferecessem uma experiência completa para fãs, audiófilos e colecionadores. Cada detalhe foi planejado. Nada é gratuito. Repito: estamos fazendo os melhores discos do Brasil! Desde a qualidade de som até o tratamento gráfico.”

Fanático pela música em formato analógico, Rodrigo de Andrade — o Garras — conta como idealizou e fundou o 180 Selo Fonográfico. Apostando no LP enquanto fetiche, ele garante que está produzindo os melhores discos do país! Ao professar sua crença inabalável na superioridade do vinil, afirma que os fãs do formato ”se dedicam a um disco da mesma forma que um leitor se dedica a um livro, ou um cinéfilo a um filme”. E apostando na alta fidelidade de som, decreta: “Queremos que os audiófilos escutem nossos discos e suas cabeças explodam!”.

Entrevista por Marina de Campos
Fotos por Fernanda Cacenote

Marina de Campos — Por que essa tua vontade de fazer disco?
Rodrigo de Andrade — Comecei a colecionar música na adolescência, nos anos 90. Na época, gravava fitas K7. Ia na casa de alguém que tinha LPs, CDs, ou fazia o registro direto do rádio mesmo. Eu tinha um som com duplo deck de fitas K7 e me esbaldava. Mas não tinha conhecimento algum sobre música. Escutava o que estava na moda, o que rolava nas trilhas de novelas e no rádio. Era o auge da dance music e eu tinha várias fitas com coisas horrorosas gravadas. Aí vieram as más companhias que me levaram para o rock e um mundo novo se abriu para mim. Como CDs eram caros — a maioria dos títulos eram importados —, tinha que ir em locadoras. Alugava o CD e fazia uma cópia em fita K7.

Outros tempos, né?
Pois é. Como era adolescente, eu e alguns amigos fantasiávamos com isso de ter banda, por exemplo. Então a gente já bolava toda a discografia, as capas, as músicas… Mesmo sem saber tocar nada. Eu era inserido no meio underground. Tenho a impressão de que a cena alternativa e o circuito independente, antes da internet, eram mais reais. As pessoas gravavam fitas demo, faziam fanzines… O resultado era concreto, material. Com a internet isso se diluiu. Eu era fanzineiro. Tinha isso de produzir as coisas.

E a coleção?
Aí fui trocando de investimentos: parei de colecionar gibis — já que a Marvel não estava em uma boa fase — e passei a usar minha grana para comprar CDs. Queria ter a capa, o encarte e uma qualidade de som superior. Na época, essa mídia estava no auge e o vinil havia sumido das lojas. E já que a música em formato digital não existia (a internet começava a se popularizar), o suporte físico era uma necessidade. Ou você tinha em CD, LP e K7 ou não podia ouvir a música que queria. Com o passar dos anos fiz uma coleção considerável. Então acho que essa “vontade de fazer disco” que você perguntou vem de tudo isso aí.

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“O Bootleg Series Vol. 4 é melhor disco ao vivo da história do rock”.

Então tu sempre esteve envolvido nesse meio, mas nunca pegou num instrumento. Esse foi um jeito de se realizar ainda mais na música? Fazer parte dela?
Na verdade eu já gravei um disco, né? Um projeto vanguardista, conceitual, malucão. O “Jesus Buceta [fake]”. E independente disso, sou um jornalista cultural. Então eu produzia sobre música. Já estava inserido no meio. Aliás, já me sentia inserido mesmo quando era apenas um colecionador. Quem consome também faz parte do esquema. É o fim em que todo o artista que produz espera chegar…

Sempre me senti “realizando a música”, mesmo como mero consumidor. Investia minha grana e ajudava a roda a girar.

É verdade. Mas dá pra dizer que “um apaixonado por rock colecionador de discos, ou vira músico ou cria um selo”, algo assim?
Ou abre uma loja. Acho que é mais ou menos assim com quase todos que entram no meio musical. Exemplos não faltam. Criei, editei e escrevi com periodicidade no site Os Armênios por 6 anos. Dizíamos que era uma página de (anti)jornalismo (contra)cultural. Nesse período, acompanhei a cena musical de perto. E isso foi em uma época em que o mercado e todo o meio musical estava aprendendo a lidar com isso da música digital, o fim do suporte físico, o acesso livre e grátis. Chegamos a ensaiar, n’Os Armênios, uma espécie de novo modelo de selo musical na era digital. Chamávamos de “Single Virtual”. As bandas que curtíamos eram convidadas e liberar gravações em MP3, que eram disponibilizadas para download juntamente com uma capa. O internauta podia baixar as faixas, imprimir a capa, gravar o CD e montar seu próprio exemplar em casa. A ideia não era nossa, mas do Senhor F, o Fernando Rosa. Ele mantinha o principal site de informações sobre a música da cena independente durante toda a transição da era do jornalismo impresso para o digital. Nós só copiamos o modelo. E era bem legal. Era como um selo. Só que as pessoas não montavam o disco em casa. Bastava ter no HD e ouvir no computador. Só uma parte do processo se concretizava. Poucos devem ter se “materializado”. Mas foi um ensaio de selo. Os Armênios dava todo um suporte de divulgação, com resenha, entrevista, organizava eventos com shows, festival… Acho que fez parte da história desse momento de transição na música independente no Brasil. Tenho o maior orgulho. O site está fora do ar, mas ainda acho que era genial.

Bom, mas dessa vontade de fazer disco até chegar a tornar realidade, foram anos e anos. O que te despertou pra isso?

Começou com uma transição da minha coleção em CD para vinil. Eu tinha alguns LPs e um toca discos. Mas era um desses 3 em 1 de plástico, de fabricação nacional. Aí, com o fim de um relacionamento, ele quebrou durante a mudança. Acabei comprando um toca discos bem melhor. Foi só aí que eu pude constatar que, realmente, o som do vinil era muito superior! Até então, eu conseguia tirar um som similar, ou até inferior, dos meus LPs. Comprava mais pela suposta raridade. Mas depois que consegui uma boa aparelhagem eu pirei. Havia passado anos colecionando música no formato errado! O vinil sim é que possui o som! E mais: os CDs mais antigos começaram a oxidar e pararam de tocar!

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Peça de pop art: a lata fazia parte do press kit do primeiro álbum da Cachorro Grande.

Mas tu já tinha uma baita coleção. O que fazer com tudo aquilo?
Comecei a vender meus CDs e fui comprando tudo de novo, em formato analógico. E mesmo com a coleção de LPs eu fui fazendo um escambo. Conseguia um exemplar em um estado melhor e daí repassava o que já estava na estante. As pessoas de um círculo próximo começaram a me procurar pra tentar conseguir determinados discos. Era um período em que as lojas haviam praticamente se extinguido aqui na cidade [Passo Fundo – RS], com exceção dessas megastores tipo “balaião” que vendem coletâneas de greatest hits e os lançamentos do momento. Mas o grande dilema disso de me desfazer dos CDs era que existem títulos que eu adoro e que simplesmente não existem em vinil. Principalmente álbuns de bandas nacionais, lançados da metade da década de 90 até hoje. Foi quando pensei em como resolver essa encrenca. Fiquei pensando em modos de tentar agilizar um relançamento e ver se existia mercado. Se dava pé.

E aí???
Já fazia algum tempo que, n’Os Armênios, escrevendo sobre música, eu focava o formato analógico. Se uma banda ia lançar um álbum novo, o foco da matéria no site era necessariamente a versão em vinil. Claro, até citava o download digital e a versão em CD, mas o grosso do texto era especificando detalhes da edição em bolachão. Tinha consciência de que esse era o principal suporte para a música! Com isso, fui investigando e descobrindo detalhes do mercado: quem fabricava, quem vendia, quem comprava… E assim, por conta do trabalho jornalístico, fui mapeando todos os passos que levavam à concretização do processo de criação e disseminação do produto em vinil. Aí eu passei a saber como pegar a vontade de fazer um disco e transformar aquilo em realidade. Faltava só a grana…

Um “pequeno” obstáculo… Mas então, apareceu algum louco pra embarcar na tua ideia de investir dinheiro em disco?
Havia comentado da hipótese de criar o selo com algumas pessoas próximas. Acharam que seria loucura, colocando vários empecilhos. Mas como eu estava lidando com CDs e discos de vinil, acabei sendo procurado por uma pessoa que propôs uma sociedade. Era um investidor. O cara estava antenado nesse momento que o vinil está passando. O crescimento do mercado e todo aquele lance que ano a ano a mídia mostra: venda de LPs aumentando significativamente. A ideia dele era colocar uma loja física e queria que eu viabilizasse isso. Argumentei que era algo que não funcionaria no interior do Rio Grande do Sul, a não ser que tivesse outras coisas agregadas, como ao menos uma loja online. E se vinculássemos tudo a um selo, uma coisa alimentaria a outra. Mostrei para ele como fazer, provando que era possível e que eu poderia viabilizar o projeto. Ele topou num primeiro momento. Comecei a fazer os contatos e a movimentar tudo.

Foi fácil assim, já de primeira?
Não. Quando tu fala em trabalhar com disco de vinil, está tratando de um mercado muito segmentado e de alto custo. Tudo é caro, especialmente no Brasil, que tem uma carga tributária altíssima. Com o valor da prensagem de um único LP é possível lançar uns 6 CDs, que seria o catálogo inicial de um selo inteiro! Mas eu já estava com todos os contatos feitos, havia empenhado minha palavra com fabricantes, artistas e tal. E esse investidor se sentiu inseguro. Com razão! Ele queria garantias! Algo que eu não podia dar. Eu estava embarcando nessa pela música, pelo rock, pelos discos. Estava fazendo mais pelo prazer de concretizar o sonho do que pela grana. Quando fomos colocar na ponta do lápis, calcular tudo, não parecia tão interessante do ponto de vista financeiro. Ao menos não a curto prazo. Foi aí que, juntos, concluímos que o risco era alto, o retorno incerto e não tão significativo. A ideia do selo estava indo por água abaixo… Mas pra mim era tarde demais. Eu estava disposto a concretizar o projeto de qualquer forma. E comecei a ser cobrado pelas bandas, fabricantes e aqueles com quem havia conversado sobre o selo.

Something Else By The Kinks
“Um audiófilo senta na frente das caixas de som para degustar uma obra da mesma forma que um leitor se dedica a um livro, ou um cinéfilo a um filme. Para apreciar do início ao fim.”

Tu tava pilhadíssimo e não podia desistir. Como é que as coisas voltaram a dar certo?!
Era um impasse. Tu tem razão, eu não podia voltar atrás. Pensei em sacrificar minha coleção de discos. Eu ia dar um jeito. Levantar a grana de alguma forma. Foi aí que aconteceu uma daquelas viradas do destino. Consegui montar algumas parcerias legais com bandas, fabricantes, lojistas. Tudo com a credibilidade do meu trabalho de anos como jornalista independente no meio musical. Foi nesse momento que apareceu o Leonardo Marmitt, que além de músico — é baixista na banda Reino Elétron — também é empresário e produtor cultural. Um cara que já viabilizava projetos nesse ramo, que tinha toda uma bagagem que me faltava, principalmente no âmbito administrativo. Sabe projetar as coisas e encontrar os melhores meios para concretizá-las. Além de já ter muita experiência por ter trabalhado com vários artistas e bandas. É um cara que já é do meio, tem bagagem no mundo da música. Mesmo conhecendo o panorama e estando ciente dos riscos, resolveu abraçar a causa junto comigo. Firmamos uma sociedade que está se revelando bem produtiva. Ele me mostrou que, realmente, eu não ia conseguir dar conta de tudo como imaginava. Sem ele, o selo estaria comprometido.

Que virada, hein! Com todas as ideias organizadas e a parte prática solucionada, era só começar a trabalhar pra valer?
É! Faltava só todo o trabalho. (Risos)

Então vamos lá: qual é a do selo, afinal?
Aí que está. Estão pipocando vários selos de vinil pelo país nesse momento. O que é ótimo! O mercado está aquecido e a cultura do vinil está sendo fomentada por todos os lados. Mas queríamos um diferencial. Algo especial! O selo é todo conceitual, começando pelo nome. Um LP com prensagem de 180 gramas é o que existe de qualidade máxima no mercado de discos. Com isso em mente, decidimos que iríamos fazer os melhores discos do país! Queríamos um produto com qualidade superior. Independente dos custos, resolvemos abraçar esse ideia. Por todo esse trabalho que já comentei no ramo do jornalismo musical, nos sintonizamos com o que estava rolando de melhor com o vinil em todo o planeta. Resolvemos implementar algumas estratégias aqui e cuidar de todas as etapas do processo com esmero. Os lançamentos do 180 Selo Fonográfico não seriam um mero produto para ganhar uma grana…

Do início ao fim, queríamos que nossos discos oferecessem uma experiência completa para fãs, audiófilos e colecionadores. Cada detalhe foi planejado. Nada é gratuito. Repito: estamos fazendo os melhores discos do Brasil! Desde a qualidade de som até o tratamento gráfico.

Por que são os melhores discos do Brasil? Como eles são feitos e o que têm de especial??
Começando pela parte gráfica, fizemos uma opção que a maioria das empresas não encararia. É o seguinte: quando as pessoas falam da experiência com o vinil, costumam citar o fato de a arte ser grande. E realmente, estar com uma capa grandona nas mãos é muito legal. Então percebemos que os discos costumam ser bem poluídos: textos, logotipos, código de barras… Resolvemos tirar tudo isso das nossas capas! Os lançamentos do Selo 180 trazem uma arte limpa. Só o nome da banda e o título do disco na capa e a lista de faixas na contracapa. Mas claro, precisávamos colocar os detalhes técnicos e informações para o consumidor, como rotação, gramatura, essas coisas. Então optamos por um OBI!

OBI?
Não sei se há um nome específico em português, mas é como chamam isso no vinil em todo o mundo. É uma cinta de papel que vem em absolutamente todos os discos produzidos no Japão. Eles possuem uma lei que exige que os lançamentos estrangeiros tragam todas as informações — como nome do disco, das músicas e todo texto do LP — traduzidas para japonês. Então, preservam a arte original e incluem essa filipeta de papel cheia de ideogramas. Todos os lançamentos do Selo 180 virão com OBI trazendo o texto técnico, logo, código de barras, ISRC das músicas e o que precisar. Com isso, vamos preservar a arte.

Muito fino. E o som?
Também estamos investindo na melhor qualidade de áudio. É preciso ressaltar que, no universo do vinil, não há unanimidades. As pessoas costumam pensar no vinil como algo velho. Mas a verdade é que houve um avanço imenso em técnicas de produção nos últimos anos. Tecnicamente, tudo indica que os melhores discos são os prensados utilizando o corte DMM (Direct Metal Mastering). Se trata de uma tecnologia que foi muito aprimorada na última década. A fabricação de um LP tradicional, como era produzido no passado, começa com o corte do acetato. Se pega uma peça de acetato e os sulcos por onde corre a agulha são cortados no tamanho exato das faixas. A partir dessa peça é feita a matriz madre, em metal, e dessa matriz de metal são feitas outras, maleáveis, que são utilizadas para prensar os discos propriamente. O processo de corte em DMM pula todos esses processos.

Os sulcos são cortados diretamente nas matrizes de prensagem, com equipamento de altíssima precisão, que já faz os sulcos analisando por computador exatamente como eles devem ser para resultar na melhor qualidade sonora possível. Apenas cinco fábricas no mundo possuem essa tecnologia. Uma dessas máquinas está nos lendários estúdios Abbey Road. Quem masteriza lá pode levar a matriz já cortada. Enfim, mesmo sendo mais caro, optamos por produzir nossos discos em uma fábrica que cortasse no processo DMM. Aí que entrou o Clenio, um representante da GZ Vinyl que é a maior fábrica de discos do mundo. Fica no Leste Europeu, na República Checa. O parque industrial dos caras é imenso. É onde os discos dos Beatles, Rolling Stones, The Who, Lou Reed, entre outros, são prensados atualmente. Estamos colocando no mercado um produto importado, mas de banda nacionais.

Nosso foco é a altíssima fidelidade de som. Queremos que os audiófilos escutem nossos discos e suas cabeças explodam!

Foda! Algo mais?
Por fim, há todo um trabalho de pós-produção. Ao invés de entregar o disco lacrado, para o comprador rasgar o celofane e jogar fora, já vamos entregar o LP no plástico de capa próprio para ser armazenado. Pronto para o colecionador guardar na estante. É uma forma de o comprador poder manusear o play antes de comprar. Temos certeza: quem pegar um dos nossos discos na mão vai ficar louco para levar ele para casa! Além disso, queremos que cada título do nosso catálogo tenha uma prensagem limitada e numerada em vinil colorido. O primeiro LP já vai sair assim. Serão apenas 100 cópias nesse formato e o restante da tiragem em vinil preto. Essas cópias coloridas e limitadas serão vendidas em ocasiões especiais ou fornecidas em promoções. E ainda há outros detalhes, que não vamos revelar para deixar os colecionadores descobrirem, como mensagens secretas no dead wax…

E quem vai ser a primeira banda a ter um disco desses pelo 180?
Estávamos em tratativas com várias bandas e artistas. Mas ficamos radiantes por ter conseguido firmar uma parceria com a banda Cachorro Grande. É uma satisfação enorme por vários sentidos. Primeiro porque somos fãs do grupo e acompanhamos a trajetória deles desde os primeiros shows. É uma banda de verdade! Não foram fabricados. Não sei se existe, hoje, nome mais autêntico e com integridade artística no rock nacional. Eles já têm toda uma trajetória sólida, uma carreira de respeito. Outro motivo que nos agradou muito foi o fato deles terem sido uma das bandas que mais valorizou e incentivou a volta do vinil no Brasil. Desde a época do primeiro CD, eles sempre falaram em vinil. Nas entrevistas, diziam para as pessoas colecionarem. Ressaltavam o valor, a importância e a qualidade da música analógica. Tanto é que quando a Polysom — única fábrica de discos do continente — foi reaberta, um dos primeiros lançamentos foi um álbum deles! Por tudo isso, não podia haver um nome melhor para ser o nosso primeiro lançamento. Ficamos felizes pra caralho! E o mais incrível é o fato deles também serem audiófilos e colecionadores. Todos são fissurados em vinil. Isso permitiu que decidíssemos juntos todos os detalhes do lançamento, fazendo as escolhas certas para criar realmente o melhor disco do país!

Como vai ser esse disco da Cachorro? É algo inédito?
Então, vamos começar lançando pela primeira vez em formato analógico o álbum Baixo Augusta. É o trabalho de estúdio mais recente deles e tem uma história muito legal. Foi gravado nos estúdios Trama, que é o melhor do país! Todo projetado pelo Rogério Duprat, o George Martin brasileiro e o segundo (ou talvez o primeiro) maestro mais genial e importante da história da música pop. Tem uma acústica perfeita! Inacreditável mesmo. As sessões de gravação podiam ser acompanhadas ao vivo pela internet. E, seguindo esse mesmo espírito, o disco foi lançado em dezembro de 2011 para download digital inteiramente grátis através do site Álbum Virtual Trama. Já faz algum tempo que a banda está desenvolvendo trabalhos com uma sonoridade toda elaborada. Explorando texturas e timbres. Gravando discos de estúdio mesmo. Cada música guarda surpresas que são descobertas em audições sucessivas. E Baixo Augusta é um ponto alto nessa linha de gravações. É um álbum que foi feito para ser ouvido em um sonzão enorme! Creio que o fato de ter saído primeiro para download possa ter ofuscado a recepção. As pessoas começaram ouvindo no computador, naquelas caixinhas que têm um som magrinho. Musicalmente é bem diversificado e muitas das melhores músicas da banda estão aí! Esse LP vai ressaltar toda a grandiosidade do disco.

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LP de Baixa Augusta, da Cachorro Grande.

Transformar esse material em disco exigiu algum tratamento especial?
As músicas foram todas remasterizadas especialmente para o formato analógico. Esse trabalho foi feito no Turan Audio, em Oxford, na Inglaterra. O Tim Turan é um engenheiro de som que já trabalhou com nomes como Red Hot Chili Peppers, Ramones, Gaz Coombes, Deep Purple, Bob Dylan, Tom Petty, Thin Lizzy, Slade e uma infinidade de outros artistas. A masterização para CD é completamente diferente do vinil. São outras frequências, outro rage dinâmico. Ele realçou a sonoridade alcançada nos estúdios da Trama. Quando a agulha descer no play, vai derrubar as paredes da casa dos ouvintes! E outro detalhe que faz toda a diferença: o trabalho gráfico é demais! Desenvolvido pelo fotógrafo Cisco Vasquez, é uma capa digna da Hipgnosis [grupo de design gráfico mais famoso da história da música]! E como fomos preciosistas na nossa política de realçar a arte, ficou tudo lindo demais. Decidimos até mesmo a textura do papel usado na capa interna. Estou pra ver disco mais lindo que esse!

Só esse primeiro disco já seria um marco. Mas e aí, o que vem depois?
Já temos outros dois títulos encaminhados. Não serão LPs, mas compactos de 7 polegadas, com uma faixa em cada lado. Devem ser lançados juntos. Um deles trará duas músicas inéditas da Cachorro Grande. Essas faixas não estarão em nenhum outro lançamento físico do grupo. São outtakes do Baixo Augusta e a parte gráfica seguirá a mesma linha estética do álbum. O outro compacto será da banda General Bonimores. São versões diferentes para músicas que já foram lançadas no CD de estreia do grupo. Esses dois títulos também vão ganhar uma prensagem limitada e numerada em vinil colorido. Ainda não tem data, mas é para esse semestre. Na sequência virão outros LPs. Temos coisas bem legais programadas, mas ainda não posso adiantar detalhes. E estamos negociando para fazer relançamentos históricos no ano que vem. Serão edições de aniversário, expandidas, de alguns clássicos do rock nacional. Estamos apenas definindo alguns detalhes de como vamos disponibilizar tudo isso. Também devemos estar estreando em breve com um programa de rádio. Vai ser semanal, ao vivo e poderá ser ouvido pela internet. E, claro, todo feito só com vinil!

General-Bonimores-Dia-Feliz-2013

Ok, agora que já deixou todo mundo a fim, explica como faz pra conhecer e comprar os discos do 180 Selo Fonográfico.
Vamos focar em lojas de discos que trabalham com vinil. Queremos as pessoas frequentando esses lugares. Consumindo não só o nosso produto, mas mantendo viva essa cultura! Vamos tentar colocar nossos discos no maior número de lojas assim e divulgar quais são elas pelas nossas redes socias e em nosso site. E, claro, na nossa página na internet tem uma loja virtual que, além dos nossos produtos, tem outros títulos para venda. A galera pode comprar, pagar parcelado e receber as bolachas em casa. Barbada!

Que outros atrativos tem esse site?
Além de site institucional do selo, com nosso catálogo, também vai ter a loja, como comentado. Mas o site do Selo 180 também vai ser uma agência de notícias sobre vinil. Será alimentado regularmente com informação e novidades. É para se tornar uma referência para os viciados em vinil na internet. Visite com frequência que sempre terá novidades!

Tá, mas pra me convencer de vez, dá tua última cartada: por que gastar uma nota preta por um punhado de músicas que estão lá de graça na internet?
Sabe aquela história de que “a mágica acontece fora da sua zona de conforto”? Pois é, com a música é a mesma coisa. Você pode baixar e curtir aquele som magrinho. A vantagem do MP3 e os formatos digitais é meramente a praticidade. O MP3 é a versão moderna da fita K7, inclusive pela qualidade de som. Você pode montar a coletânea só com Help, Satisfaction e Like a Rolling Stone, colocar no pendrive e ouvir no som do carro. O vinil é para fãs. Fãs da banda, do formato e de música! Para quem entende os álbuns como obras acabadas em si, em sua totalidade. Não é para o cara que está atrás só dos hits. É para aquelas pessoas que querem curtir o som em toda a sua grandiosidade. Que se relacionam com a música de uma maneira diferenciada.

Um audiófilo senta na frente das caixas de som para degustar uma obra da mesma forma que um leitor se dedica a um livro, ou um cinéfilo a um filme. Para apreciar do início ao fim.

É um momento especial: agora vou tirar uma hora para ouvir um disco, e não soltar o som para ir fazer uma faxina. E como qualquer coisa colecionável, tem o fetiche da materialidade do produto, de se relacionar com algo tangível. E mesmo que você prefira ver apenas como um produto, uma mercadoria, uma peça de pop art, é algo que tende apenas a valorizar com o passar do tempo, se for bem conservado. Pela minha experiência, posso garantir: comprar e conservar arte é um investimento. Fazer uma coleção é construir um patrimônio. Rende mais que qualquer aplicação. Pessoalmente, prefiro pensar na música, no bem imaterial que está contido naquele suporte físico. É como um show: o que vale é a experiência. A sensação, o efeito que me causa um álbum como Revolver é algo que não tem preço. E curtir ele num bolachão de 180 gramas é a forma mais incrível possível de tomar contato com aquelas canções. Me ofereçam bolachas como essa que eu abro a carteira e dou todo o meu dinheiro rapidinho, sem pensar duas vezes.

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