A inescapável quarta-feira de cinzas

Foto: Adriana Oliveira | Flickr

Já não atravessam blocos pelos caminhos, nem se veem passistas saltando em tesouras e rodopios. Ninguém vê mais a passagem d’O Bonde – que estava lindo este ano, com seus integrantes impecavelmente vestidos em luzes de led e veludo e ilusão -, já não há quem desfile de palhaça ou de super-herói, de macaco ou de duende, de princesa ou de freira, ainda há uns quantos que se embalam errantes pelos passeios, vestidos na fantasia mais comum de todas: a embriaguez!

Acabou-se a folia de Momo, esgotaram-se confetes e serpentinas, findou a boca pintada do Pierrot e os olhos dançantes das arlequinas. O que era festa transformou-se em preguiça, o que era riso transformou-se em sono, o que era fogo, agora já são cinzas. Ano após ano as apresentações no Marco Zero recifense, os desfiles de blocos centenários, a beleza dos infantes fantasiados – pequenos foliões extasiados com tantas luzes, máscaras, cores e alegria em profusão -, servem para aliviar as agruras dos outros onze meses, como se nos dissesse: não ligue para essa caretice, só mais um pouco e o Galo da Madrugada já desfila.

E é por isso que as cinzas são absolutamente necessárias e boas. Nem cinco dias, nem dois, nem vinte, o Carnaval é bom porque só dura quatro, que é tempo suficiente para desabar de exaustão e para marcar a memória. Por mais que sintamos saudades, sabemos que o tempo não volta, e o que resta é esperar pelo próximo, enquanto costuramos a fantasia; não a que nos veste de palhaço, mas a que nos veste de careta, todo dia, pois o cotidiano é que é ilusão, a única realidade possível é o Carnaval e a alegria!