AC/DC: Hardeira mais elementar que o meu caro Watson

Faz mais ou menos uns 15 anos que me faço sempre a mesma pergunta. Não acontece todo dia… Não vou mentir, durante algum tempo era praticamente todo dia, mas nos últimos anos aprendi a controlar essa neura, logo, agora só me questiono sobre o assunto (que irei relatar) bimestralmente, ou algo próximo disso.

Por que raios nós aprendemos na escola esse tal de A.C? Em 507 antes de Cristo o Noé foi dar um rolê de lancha e tomou um caldo do tamanho de um tsunami. Mas e daí? Esse negócio de A.C. nunca me desceu muito bem, para este que vos escreve é balela, tenho quase certeza que são os mesmos fatos, só que contados sem mencionar nosso grande amigo Cristo, que deve ter saído da balada para dormir cedo, afinal de contas no domingo é dia de fazer a água virar vinho, caso contrário não tem culto.

E por favor, não me venha com essa de D.C. meu amigo. Se o A.C. já é uma grande demonstração de oportunismo, por relatar fatos com um cidadão que nem chegou, o D.C. mostra o ocorrido depois que o cara que nem chegou já foi embora. Em 777 depois de cristo rolou uma tal de multiplicação de donuts… Antes de cristo rolou uma ceia patrocinada pela SEARA.

Tenho como verdade absoluta que nenhum destes dois períodos existem, o que realmente se faz presente na história do nosso planeta é a verdade, e ela é o que está entre estes dois períodos, o raio que separa o antes de cristo do depois do cristo, o Hard-Rock do AC/DC e o som que divide a terra em dois. Rock Or Bust para os íntimos, décimo sétimo capítulo sem AC ou DC, apenas Hard-Rock.

 

O AC/DC toca exatamente a mesma coisa desde 1973. Eles nunca mudaram o som, aliás creio que já nasceram tocando três acordes… Existe até uma máxima com o nome dos australianos envolvidos: AC/DC? Ruim é bom. Lendo este parágrafo até parece uma crítica, mas não é.

Gostei desse disco, achei coeso e direto, porém acredito que diferentemente dos novos trabalhos dos ditos “medalhões”, este aqui não acrescenta nada, é uma mistura de nada com coisa nenhuma. Você, ouvindo ou não, não mudará sua opinião sobre o grupo.

O que fica de positivo é que o som segue rolando e talvez até chegue ao Brasil nas tours, mas musicalmente falando o AC/DC começou parado no tempo e não deve mudar isso. Eles não exploram o caráter artístico para mudar o som e as regras do jogo, não temperam o som com metais e nem pensam em aumentar o leque de possibilidades instrumentais. Eles apenas tocam três acordes com uma bateria de base bem sincopada no groove e deixam Angus dar aulas de riff em workshop.

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Você pega um disco deles, sabe o que vai ter e mesmo assim se impressiona… Talvez a mística dos caras seja realmente essa, a uniformidade. Veja que julgando pelos três parágrafos anteriores até parece que detesto este Hard-Rock, mas não, é exatamente o contrário! O cidadão que é fã desses velhotes sabe que Rock Or Bust não vai mudar o mundo, mas é AC/DC, e se todo disco “comum” fosse assim, acredito que o mundo seria uma melhor lugar para se viver.

O disco abre os giros em seu próprio eixo com a faixa-título, e com ela vemos que a única mudança perceptível é o tom das músicas, que facilitam (e muito), a vida do ainda competente Mr. Johnson. Abaixar o som se provou uma sábia escolha, afinal de contas com o peso um tom atrás o vocal consegue estar um passo adiante de todo o resto, e isso ao vivo será ainda mais sentido, afinal de contas com o som mais cru é que a coisa pega, junto com a Gibson do mestre Angus.

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E o Stevie Young? Substituir a maior mão direita doHard é dureza, mas o descendente da família Young mostra talento e trabalha muito bem, e o levar (temporariamente) mais cadenciado de Rock The Blues Away mostra isso. Por que de resto tudo segue na mesma. Angus é o termômetro do som, a hora que ele acelera o som levanta voo, sendo Miss Adventure outro bom exemplo para este fato.

Phil Rudd mostra mais uma vez que se precisar tocar a base durante 48 horas seguidas ele segue bem preparado para tal. A vitalidade do cidadão é de dar inveja, as anfetaminas estão fazendo efeito e beneficiando (e muito) o casamento perfeito de suas baquetas com o groove de Cliff Williams.

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Veja essa banda como uma fatia de pizza. Por mais que você não queira, você não rejeita, e quando come ainda elogia. O mimimi pode ser imenso, mas uma coisa é fato, eles tocam a mesma coisa, você escuta e ainda vai pular no show. Gostei muito da dinâmica das novas faixas, nota-se que a jam se desenrola de forma mais relaxada, fora que climão ao vivo é excelente.

Assuma, pequeno gafanhoto, você reclamou que está “A mesma coisa de sempre”, porém fritou até umas horas com Dogs Of War, Got Some Rock & Roll Thunder, Hard Times… AC/DC é sempre AC/DC, eles são a força que mantém o mundo girando, são os mediadores do que veio antes de cristo e depois de cristo, o termostato do trovão elétrico que faz você pular ao som dos caras e ler linhas sobre o que eles fazem sair das caixas de som. Um brinde com borda recheado à meca do “Me vê o de sempre”.

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Track List:

1. Rock Or Bust
2. Play Ball
3. Rock The Blues Away
4. Miss Adventure
5. Dogs Of War
6. Got Some Rock & Roll Thunder
7. Hard Times
8. Baptism By Fire
9. Rock The House
10. Sweet Candy
11. Emission Control

Line Up:

Angus Young (guitarra)
Brian Johnson (vocal)
Cliff Williams (baixo/vocal)
Phil Rudd (bateria)
Stevie Young (guitarra/vocal)