Alua(na)dos ou O dia em que seu Luiz remexeu no túmulo

– Acredito que deve ser ainda muito bonito e bem imaginativo, apesar de ter sido feita há muito tempo, escutar alguns versos como “Quando a manhã vai clareando / Deixo a rede a balançar / No meu cavalo vou montando / Deixo o cão a vigiar. / Cendo um cigarro de vez em quando / Pra esquecer de pra alembrar / Que só me falta uma bonita morena / Pra mais nada me faltar” ou talvez “Vem, morena pros meus braços / Vem, morena, vem dançar (…) / Quero ver tu remexer / No resfulengo da sanfona / Inté que o sol raiá”. Para a maioria das pessoas, Luiz Gonzaga é eterno. Sua genialidade como intérprete e compositor, junto aos seus parceiros, fez com que o Nordeste, o sertão, a seca, a natureza, a mulher, as festas e as críticas fossem vistos para todo o Brasil e mundo.

Pois bem, rememorar seu Lula é muito importante. Vejamos alguns nomes que ainda hoje (ou que até recentemente) bebem (ou beberam) da mesma fonte do grande mestre: Dominguinhos, Sivuca e Marinês – que Deus os tenha – , Antônio Barros e Cecéu, Trio Nordestino, Os Três do Nordeste, Oswaldinho do Acordeon, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Moraes Moreira, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Nando Cordel, Djavan, Lenine, Alcimar Monteiro, Flávio José, Pinto do Acordeon, Falamansa, Rastapé, Mestrinho, Cezzinha, Lucy Alves e muitos outros que me esqueço aqui no momento. Ahhh, claro jamais poderia faltar ele: Luan Estilizado.

– Hã?

– Pois é. Não soube? Provavelmente ele tomou chá de consciência e se converteu.

– Como assim? Pensava que Luiz Gonzaga fosse cantor, compositor, mas nunca santo!

– Mas é algo que está acontecendo. Repare: teve um programa aí que foi ao ar e era uma competição entre bandas.

– Sei…

– Aí tinha Luan como representante da Paraíba. A turma foi à loucura! Mais uma vez a Paraíba sendo valorizada pelas canções desse admirável intérprete. Antes desse programa, teve outro que apresentou para o Brasil Lucy. Lembra, do Clã Brasil?

– Lembro, lembro… lá de Itaporanga?

– É, de lá mesmo. Ela foi para a final do programa, mostrando que tem muita influência do velho Luiz e de Dominguinhos. Eu, curioso, fui escutar as músicas dela e do grupo que fazia parte e percebi que essa influência sempre existiu.

– Sim, mas que tem a ver Luan com isso?

– Fiz a mesma coisa com as músicas dele. Fui escutar…

– E aí?

– Eu acho que ele tem um irmão gêmeo.

– Por quê?

– Era um na tevê e outro no show por aqui.

– Tô entendendo não!

– Olhe, no programa ele cantou: Gostoso demais, Ai que saudade D’ocê, Espumas ao vento, A vida do viajante, Riacho do navio, Disparada, Rindo à toa, Esperando na janela, Hora do adeus, Coração, Xote das Meninas…

– Pera, pêra, pêra… você ta reclamando de quê? Tem muita música boa e de autores consagrados. Dominguinhos, Vital Farias, o velho Lua, Geral Vandré, Targino Gondim…

– Tá certo, tá certo… mas como eu disse, deve ser o irmão. Por que eu fui escutar umas músicas dele e vi isto, repara: “Sou patrocinador, sou eu que pago a conta / Mulher que anda comigo fica logo beba tonta / O cara que tem moral, tem carrão e é estourado / Quem sou eu? O empresário”… Também tem esta: “Bem na cama, bem no amor, / Ela é de quem manda bem / Debaixo do cobertor. / Bem de grana, que é pra dar mais valor, / Ela é de quem manda bem, / Que sabe fazer amor.”

– Vixe…

– Calma… olha: “agora só porque eu tô de boa você vem / pedindo pra ficar / mas hoje eu fecho um bar / bebendo, curtindo até a cachaça acabar…”

– Eita gota! Mas rapaz, que diferença!

– Pois num é? Eu acho que ele deve ter vergonha de cantar isso para todos verem. Aí volta às músicas que sempre fizeram sucesso, de letras boas e marcantes. Eu fui falar isso pra um amigo meu e ele disse que na verdade Luan quis mostrar um pouco de cultura. Eu disse que pensava do mesmo jeito, e era exatamente por isso que se utilizou dessa tática para tentar ganhar o público. Parece que em uma das apresentações no programa, Luan foi cantar uma das músicas dele e quase saiu do programa por pouca votação.

– Meniiiino, foi mesmo? Agora o que me chama atenção é ter gente que escuta esse tipo de letra. E também, ter gente que sabe que ele mudou de plano e foi tocar as músicas mais antigas e votou nele…

– Ah, mas aí tem explicação.

– Qual?

– Amor pela terra. Ele é paraibano e se a Paraíba está aparecendo para todo o Brasil, quer queira ou não, isso é o que importa. Ele vai continuar cantando as mesmas músicas dele aqui e um bocado de gente vai levantar as mãos e achar bonito. Muitos ainda vão curtir as letras que menosprezam a mulher, que só falam de bebida e que dizem que o que importa é ter carrão, dinheiro e tudo mais.

– E tu acha que é só por isso de elevar a Paraíba?

– Rapaz, eu acho. Se também não tiver dinheiro por trás…

– E é?

– É…

– “Fez besteira / Fez besteira”.

 

Faryas e Albuquerque

(Após a leitura desse texto, achei de fundamental importância publicá-lo e divulgá-lo. Tanto pelo seu teor cultural, como pela veracidade de suas palavras. Mas vale lembrar que o texto NÃO É DE MINHA AUTORIA.)