O público e o privado na vida de Audrey Hepburn

“Eu decidi, desde muito cedo, apenas aceitar a vida incondicionalmente. Eu nunca esperei que ela fizesse nada especial por mim, apesar de eu conseguir alcançar muito mais do que cheguei a imaginar. Na maioria das vezes essas coisas só aconteceram sem que eu procurasse por elas.”

(Audrey Hepburn)

Se hoje a joalheria Tiffany’s tem tanto prestígio e se tornou um ponto turístico em Nova York, Audrey Hepburn tem grande responsabilidade nisso.

Quando a atriz estrelou o filme “Bonequinha de Luxo” (“Breakfast at Tiffany’s”, no título original), o mundo todo se rendeu ao seu estilo de mulher romântica e decidida, tornando-se uma inspiração para a moda até os dias de hoje.

Audrey Hepburn e a elegância de berço

O estilo de Audrey, dentro e fora das telonas, inspirou muitas gerações quando a exigência é a elegância.

Audrey aprendeu essa característica com a mãe, Ella van Heemstre, uma aristocrata holandesa casada com Joseph Victor Hepburn-Ruston, que trabalhava como banqueiro na Inglaterra. Ou seja, o sangue real já corria em suas veias.

Bastou aparecer para o mundo para então ser considerada uma verdadeira princesa do cinema.

Audrey Hepburn

Vida dura

Apesar de ter nascido com boas condições financeiras, Audrey Hepburn teve de se submeter a diversas situações de precariedade para sobreviver, principalmente depois que o pai abandonou a família quando a garota tinha apenas 6 anos de idade – trauma que ela diz jamais ter se recuperado.

Após ser mandada para um internato quando tinha apenas 9 anos, onde aprendeu o balé, que viria a dar ainda mais elegância ao seu jeito de andar e atuar, a Segunda Guerra Mundial a fez largar toda a sua vida na Inglaterra para viver reclusa na Holanda, já que sua mãe temia os bombardeios na capital inglesa.

A situação da Holanda, todavia, foi muito diferente do que a mãe de Audrey Hepburn previa. Com a invasão dos nazistas, a família se viu privada de quase tudo, sendo que por muitas vezes elas tiveram de comer apenas folhas de tulipa para sobreviver. Audrey chegou a ver muitos de seus parentes sendo mortos, por ter sua mãe envolvida com opositores às Potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

A garota, procurando ajudar, chegou a dançar em espetáculos clandestinos de balé apenas para angariar fundos e passar mensagens secretas a refugiados. As mensagens ficavam escondidas dentro de suas sapatilhas. Seu envolvimento direto com a situação da Segunda Guerra Mundial foi um dos motivos que a levou a recusar o papel de Anne Frank (alemã refugiada na mesma Holanda), anos mais tarde, no cinema.

A magreza, que virou marca de seu estilo, nada tinha a ver com sua relação com a moda, mas sim com a má nutrição de toda a sua vida. Apesar de ter 1,70 m de altura, ela sempre pesou cerca de 49 kg, um número muito baixo para sua estatura.

Audrey Hepburn

Flor de lótus

Assim como a flor que nasce na lama e encontra a luz para então entregar toda a sua beleza, Audrey Hepburn conquistou o sucesso. Depois de sair do balé após sua professora dizer que ela jamais conseguiria ser uma boa dançarina por conta de sua altura, ela passou a se aventurar em outros ramos artísticos, e foi assim que passou a ser reconhecida como atriz e modelo.

Sua simpatia e humildade renderam-lhe bons frutos, como a parceria com o estilista Hubert de Givenchy. Quando foi convidado para vestir Hepburn para o filme “Sabrina”, Givenchy aceitou, pensando que seria Katherine Hepburn e ficando desapontado ao encontrar uma atriz desconhecida.

No entanto, passaram um tempo juntos e cresceu uma amizade que os faria parceiros de trabalho em muitos outros filmes da atriz, com figurinos que revolucionaram a moda.

Audrey Hepburn

Um coração a ser preenchido

Apesar de ter uma carreira bem-sucedida, a vida privada de Audrey estava muito longe de seus sonhos. Com uma grande vontade de ser mãe, a atriz sofreu com a dificuldade para engravidar e manter a gestação. Em uma das ocasiões, chegou a cancelar sua agenda para se dedicar totalmente a este sonho, dando a luz a sua primeira filha.

Seus relacionamentos também não saíram como o esperado, fazendo com que ela revivesse muitos dos traumas da infância – como ao ver o casamento de seus pais sendo desfeito. A estrela encontrou, no entanto, ainda mais luz nas causas sociais, tornando-se embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para ela, essa foi a forma de dar um novo sentido a sua vida e retribuir a ajuda que teve durante a guerra.

Quem conviveu com Audrey diz que ela foi mais do que uma grande atriz, premiada em vida e postumamente. Para essas pessoas, o verdadeiro estilo de Audrey Hepburn não era o que estava no exterior, mas sim no interior.

A estrela faleceu no dia 20 de janeiro de 1993, enquanto dormia. Ela estava em sua casa e já havia cancelado vários compromissos por conta do tratamento do câncer de apêndice.

O seu legado, contudo, é reverenciado até hoje quando olhamos para a moda e o ativismo em Hollywood.