‘Chatô, O Rei do Brasil’: antes 20 anos tarde do que nunca?

‘Chatô, O Rei do Brasil’ já é um marco no cinema nacional ainda antes de ser lançado. Não muito pela obra em si, mas por tudo o que a envolve.

O filme começou a ser produzido há 20 anos e tardou tanto não por ser uma produção que exige esse tempo, como Boyhood, por exemplo. A demora foi por erro de cálculo mesmo. Em miúdos é um filme sobre uma época passada, gravado em uma época passada e lançado no futuro com delay. Emblemático!

Começou em 1995, quando o então astro da Globo Guilherme Fontes recebeu 8,6 milhões de reais de leis de incentivo à cultura para começar a produzir a cinebiografia do magnata das comunicações Assis Chateaubriand. O longa seria baseado no livro homônimo, lançado pelo escritor Fernando Morais um ano antes. No elenco, astros globais como Marco Ricca, Paulo Betti, Andréa Beltrão, Leandra Leal, Letícia Sabatella, Gabriel Braga Nunes e Eliane Giardini. Na direção, tentou convencer Francis Ford Coppola a assumir, dizendo que Chatô seria o Cidadão Kane brasileiro. Não conseguiu e acabou ficando ele mesmo com a direção.

Só que o projeto foi andando devagar, quase parando, e suspeitas foram levantadas. O cineasta foi acusado de desvio de dinheiro público e condenado a pagar indenizações. Em novembro de 2014, por exemplo, o Tribunal de Contas da União determinou que Guilherme Fontes devolvesse à Ancine um valor que, corrigido para os dias de hoje, gira em torno de R$ 71 milhões, além de duas multas no valor de R$ 2,5 milhões cada.

A acusação é refutada (óbvio que é) pelo cineasta e por seu advogado. Em uma entrevista recente à revista Status, Guilherme Fontes diz que as cenas foram filmadas em 1999, 2002 e 2004, e que não havia finalizado o filme pois faltava uma verba para a trilha sonora e computação gráfica. Diz também que foi incriminado por fiscais bandidos do governo e que os tubarões do cinema nacional o prejudicaram por ser um novato à frente de um grande projeto.

Enfim, toda essa enrolação de vinte anos para fazer o filme e as batalhas judiciais é o que faz com que ele seja um marco para o cinema brasileiro. Agora, sobre o filme em si, é preciso duvidar. O primeiro trailer do filme foi divulgado por Fernando Morais e, segundo o escritor, ele não está finalizado. Uma ironia da ironia?

Não se pode julgar um filme pelo trailer, mas assista abaixo, tente entender algo e tente dar uma nota razoável para as atuações, principalmente de Marco Ricca (Assis Chateaubriand) e Paulo Betti (Getúlio Vargas), interpretações dignas de novela nacional.