E se Hitler fosse atropelado quando criança?

“O dispositivo de previsão de colisões da Mercedes funciona muito bem. E se ele tivesse sido desenvolvidos há anos? E se fosse melhor do que o esperado? E se o sistema tivesse alma?”

A descrição acima é de um vídeo produzido pelo diretor Tobias Haase e pelos estudantes de cinema Jan Mettler, Lydia Lohse e Guy Aidemir, da Universidade de Ludwigsburg, Alemanha. O vídeo, divulgado em agosto, é um trabalho de conclusão de curso dos estudantes. Na Alemanha – e no mundo – tem dividido opiniões por sugerir que o moderno sistema da Mercedes-Benz, que “detecta o perigo antes de acontecer”, poderia ter salvo a vida de muitas crianças, exceto de Hitler.

Imaginem um moderno Mercedes Classe C aparecendo em um vilarejo do século XX, como se viesse do futuro. Os moradores olham o carro com desconfiança, sem entender muito o que está acontecendo. O carro acelera, encontra duas meninas brincando em sua frente e automaticamente para, mostrando a eficiência do sistema de freios automático. Segundos depois, um menino corre sozinho pelo vilarejo. O Mercedes acelera, mas dessa vez não para.

“Adolf!”, grita uma mãe desesperada após ouvir o cruel barulho de um carro atropelando seu filho. Este Adolf não é qualquer um, trata-se do ditador nazista, atropelado na flor de sua infância. Ao fim do vídeo, surge o slogan “detecta o perigo antes de acontecer”, sugerindo um duplo sentido. Como se o Mercedes soubesse o que poderia ser perigo não só a poucos metros, mas a anos de distância.

mercedes adolf hitler

No momento do choque, a imagem de Hitler aparece durante cerca de meio segundo. E já no final do vídeo, surge uma placa indicando a localização, Braunau am Inn, cidade austríaca em que Hitler nasceu. O vídeo termina com o menino morto no chão, formando uma suástica com o corpo.

A Mercedes-Benz informou que não possui vínculo nenhum com a produção, que é totalmente independente. Como o vídeo não foi pago, não caracteriza publicidade. Não foi proibido ou censurado, a única medida que a empresa tomou foi obrigar os produtores que inserissem um aviso de que o vídeo não tem relação nenhuma com a Mercedes-Benz/Daimler AG.

“Aqui na academia, nós normalmente não fazemos publicidade […] Publicidade é quando um cliente paga. Aí ele tem influência sobre o filme. Então, o que é isso que estamos fazendo? Fazemos publicidade para nós mesmos, ou seja, para aqueles que fazem este filme. Eu acredito, sim, que isso nós conseguimos.” (Tobias Haase)

A empresa poderia ter comprado a ideia, mas preferiu ficar longe da polêmica. Isso não impediu que o vídeo se tornasse um sucesso na internet, com mais de 5 milhões de visualizações agregadas no youtube, vimeo e outros sites.

O polêmico comercial/vídeo foi laureado no First Steps Award, importante prêmio para formandos de escolas de cinema de idioma alemão. A ironia é que o prêmio é patrocinado pela própria Mercedes-Benz. No entanto, não há influência alguma, já que o júri não possui vínculo com a empresa. Ao menos é o que a Mercedes assegura.

adolf hitler mercedes maio 1939
Adolf Hitler e sua Mercedes 770, em 8 de maio de 1939, no estádio olímpico de Berlim
Foto: AP

Durante o regime nazista, na Alemanha, o Mercedes 770 foi um dos carros oficiais de Hitler. Responsável por levá-lo a público em discursos e desfiles, teria a Mercedes se arrependido de ter carregado Hitler e voltado no tempo? A empresa afirmou achar inapropriado utilizar a morte de uma criança e a ideologia nacional-socialista em seus comerciais, mas nós – e os realizadores do vídeo – que não temos nada com isso podemos imaginar o que quisermos.

Assista ao vídeo:

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