Em zona de conflito, fotógrafa registra uma simbólica imagem da união entre dois cães

Foto: Ami Vitale

A National Geographic publicou no último primeiro de abril uma seleção com seis fotografias feitas acidentalmente, quase que baseadas no erro, em alusão à data.

E a fotografia que vocês podem ver acima é uma delas, e essa em especial chamou muito a minha atenção. Por três coisas:

Primeiro, pelo timing perfeito. Em um primeiro momento e sem analisar muito parece que estamos vendo um cachorro com duas cabeças, devido às suas posições na imagem.

Segundo, pelo contexto, ironia e carga poética da fotografia. A imagem é belíssima, mas foi retratada em uma zona de conflito, mais precisamente na cidade de Kuito, em Angola, no ano 2000. É como se os dois cães estivessem resistindo e sobrevivendo juntos em um dos territórios mais sangrentos do planeta, um apoiando o outro.

E último, pelo tempo que a fotografia ficou guardada como um negativo. O registro é da fotógrafa Ami Vitale, e foi feito com uma câmera analógica. Apesar de ter sido em 2000, a foto só foi revelada esse ano e não fez parte da matéria jornalística que a fotógrafa estava cobrindo.

A fotografia foi postada também em seu Instagram. Ami explicou sobre a foto na legenda e eu resolvi traduzir livremente abaixo:

“Em 2000, eu estava fazendo uma cobertura muito difícil sobre a guerra civil mais longa da África, em Angola, um assunto que o mundo aparentemente havia esquecido. A guerra já estava em seu vigésimo sexto ano de luta, e já havia desabrigado mais de quatro milhões de pessoas e gerado uma crise humanitária. Foi uma reportagem profundamente triste, e pela primeira vez eu estava testemunhando esse tipo de brutalidade. Em uma manhã eu saí bem cedo às quietas ruas de Kuito, onde encontrei dois cachorrinhos passeando. Eles pararam e sentaram desse jeito por apenas uma fração de segundo, olharam para mim, e voltaram a caminhar. Eu estava fazendo fotografias analógicas na época, então eu não sabia da existência desse filme até poucos dias atrás quando eu tive a oportunidade de revelá-lo. Essa imagem me proporcionou um pequeno sorriso e se tornou um lembrete para continuar procurando por momentos alegres em meio a lugares obscuros. Porque as pessoas que eu conheci certamente ainda sorriam, mesmo com a indescritível violência que acontecia ao redor.”