Entrevista com Mustache & Os Apaches

Foto: Ricardo Calabro

O primeiro álbum de estúdio do Mustache & Os Apaches é para ser apreciado mais de uma vez, tamanha é sua riqueza musical. É um disco que te leva às vezes ao Estado do Mississippi, outras ao Estado de Nova Orleans ou até a um circo artístico e itinerante  que caminha de cidade em cidade (bar em bar no caso).

É o seguinte: são cinco músicos caminhando pela rua e tocando em qualquer lugar com instrumentos pouco comuns, ao menos para a nossa época e localização geográfica. Baseado na música folk inglesa e norte-americana, o grupo é composto por  Axel Flag (vocal e ganzá), Jack Rubens (bandolim, violão e voz), Lumineiro (washboard e voz), Pedro Pastoriz (banjo, violão, kazoo e voz) e Tomas Oliveira (contrabaixo, kazoo e voz).

Porém, este apego às raízes e tradições culturais não significam que o grupo esteja no século passado. O Mustache está sempre ativo nas redes sociais, tem canal no youtube e libera as músicas de graça na internet, pois “tem a ver com o nosso tempo”, como explicou Pedro Pastoriz. O disco foi divulgado pelo Eu Escuto na semana passada e a repercussão foi gigantesca. Já é um dos discos mais baixados do site. O lançamento oficial em formato físico será dia 16 de outubro.

Bom, deixo a palavra agora com o Pedro. Leia a entrevista logo abaixo deste belo clipe, produção da Amnésia Filmes. E não esqueça de fazer o download gratuito do álbum no Eu Escuto. São onze músicas, algumas em português, algumas em inglês e uma em francês. Riquíssimo.

Há muitos detalhes em todas as músicas do disco. No total, quais instrumentos/objetos vocês usaram para a gravação?

Grande parte do disco foi gravado ao vivo mesmo, foi mais do que tudo um registro dessa nossa época inicial, tocando em praças, becos, vielas e inferninhos lotados. Daí em algumas faixas brincamos com o que o estúdio nos proporcionou, serrotes, pianos, hammond B2 e tivemos a participação do Felipe Maia, baterista que tocou em duas músicas.

Onde e quando o álbum foi gravado? Teve produção de alguém a própria banda se encarregou disso?

Foi gravado grande parte no estúdio Mosh no finalzinho do ano passado, com o nosso querido Guilherme Destro. Foi logo antes de irmos pra tour européia, então nesse tempo que estávamos fora ele tomou as rédeas e agilizou grande parte do processo de finalização do disco.

Desde quando existe a banda e desde quando vocês tocam na rua? Por sinal, vocês tocam em lugares e dias específicos em São Paulo?

A gente toca na rua há pelo menos 2 anos e meio, num ritmo bem acelerado, pois é o que mais gostamos de fazer. A rua nos ajudou muito a crescer, tínhamos o hábito de tocar nos bares de Perdizes, tocávamos 3 músicas, passávamos o chapéu e íamos pro próximo bar. Em uma noite chegávamos a fazer 10, 12 bares. Quer dizer, que outro tipo de palco oferece a uma banda no início a oportunidade de tocar pra 500, 600 pessoas por noite? Enfim, e o fato de tocarmos muitas vezes o mesmo repertório nos entrosou musicalmente e nossa amizade também ficou bem fortalecida. Mas sem dias certos, é quando todos estão dispostos e com tempo pra se divertir.

Foto: Ricardo Calabro
Foto: Ricardo Calabro

Por que disponibilizar o download gratuito do álbum? Tem a ver com vocês serem essencialmente uma banda de rua?

Se tu me permite a ousadia, a pergunta deveria ser “por que não” se disponibiliza tudo na internet gratuitamente? Acho que a informação no geral tem que ser compartilhada com quem estiver disposto a consumi-la. Mas então, disponibilizamos antes mesmo do disco ir para as lojas porque isso nos ajuda a chegar nos ouvidos de gente que está geograficamente distante e essas pessoas passam a pedir nosso show lá, foi assim que chegamos a fazer essa tour pela Europa. Acho que tem a ver com nosso tempo mesmo, aliás, alguns dos caras da nossa época como o Assange ou o Snowden estão presos porque pensam assim. Mas uma curiosidade, quando tocamos em Londres eu tentei ir até a embaixada do Equador visitar, levar um café brasileiro e uma cachaça pro Julian Assange, mas foi impossível, quadras em volta da embaixada estavam cercadas.

Qual é a diferença que vocês sentem quando tocam na rua e quando tocam em algum bar/evento fechado e pré-programado?

Depende muito do público, estamos adorando esse momento pois estamos começando a tocar em festivais, teatros e lugares que são bem diferentes do que fazíamos no início. No Morrostock, por exemplo não aguentamos e na última música descemos do palco e acabamos o show tocando desplugados no meio da galera, foi mágico. Mas o público recebe bem essa coisa informal, espontânea e sem aquela velha hierarquia de palco e platéia. É legal brincar com isso, deixar tudo junto. Diria que percebemos o público cada vez menos católico, sem a figura púlpito, e mais ubanda, em roda e transe, cantando juntos e ditando as regras juntos. Para o lançamento do disco escolhemos o teatro do Sesc Vila Mariana, que dispõe de uma infra-estrutura legal pra todos poderem ouvir o som de um jeito bem definido. Vamos ver o que a turnê desse disco nos apresentará.

Você tocaram na Europa. Como foi a recepção do público europeu? Qual a principal diferença em relação ao brasileiro?

Fizemos 20 shows em 30 dias, passamos por Bruxelas, Londres, Berlin, Paris, Istambul e cidades pequenas que parávamos com a van. E a reação foi ótima, casas cheias, num geral a galera dançou muito bem nossas músicas. Muito difícil de dizer em poucas palavras a diferença de lá pra cá, porque nas cidades que tocamos cruzamos com lugares bem cosmopolitas, volta e meia cruzamos russos, indianos, norte americanos, argentinos e tudo é muito misturado, o que deu todo charme a turnê. Poderia dizer que a principal diferença é as cidades serem mais cosmopolitas lá do que grande parte do Brasil. Mas voltamos felizes e nos sentindo bem mais americanos, quero dizer do continente americano. Talvez essa coisa do improviso a todo o minuto e a espontainedade é algo que nos agrada bastante do público daqui.

Como que a gente poderia definir o tipo de som que vocês tocam? Achei uma mistura muito interessante. Vejo muito bluegrass, blues, jazz e folk. Mas certamente esqueci de algo, certo?

Logo de cara, quando conheci os guris já queria ter uma banda de skiffle, que são as bandas inglesas revisitando a música de raíz norte americana. Jug Bands e bandas de rua de Nova Orleans são influência pra gente, mas a gente sempre traz toda essa influencia de uma maneira muito natural pra nossas músicas, nada muito decorado ou estudado. E a grande maioria de nossas músicas são em português, gostamos de cantar em português, porque afinal de contas o português é uma língua muito bonita e é muito bom quando as pessoas cantam junto sabendo o que estão cantando.

Sobre o disco físico: Quando ele vai ser lançado e onde estarão disponíveis para venda?

O disco será lançado em São Paulo, no próximo dia 16 de outubro, no Sesc Vila Mariana. Esse show dará origem a nossa turnê do disco, que ainda estamos agendando, mas pretendemos viajar pelo Brasil, conhecer o Norte e Nordeste e voltar ao Sul pra rever a galera de lá. O disco estará disponível para venda online, nas pequenas e grandes lojas do ramo.

mustache e os apaches capa

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