Eu sou um serial killer

serial killer

Vocês podem não saber, mas eu tenho outra pessoa dentro de mim. Não, não sou “João de dia e Maria de noite”, falo de uma pessoa com instinto assassino, de sangue, de morte e de caos.

A exemplo do suposto – vamos tratar como suposto já que as investigações, mesmo depois de finalizadas, deixarão muitas dúvidas no ar, quem acompanha sabe – garoto de 13 anos que matou parte da família, também sou filho de policial militar. Não cheguei a atirar com a arma de meu pai, mas já o vi carregando consigo muitas vezes. Atirei sim com espingardas de pressão, na minha infância, mas nunca tive muito sucesso. Não consegui exterminar mais do que duas pombas em toda a minha vida de arma de pressão e bodoque, mas isso não fez com que eu descontinuasse a nutrir meu instinto assassino.

A primeira vez que eu matei uma pessoa foi no jogo Contra, do NES. Eu tinha seis anos e era um guerreiro armado, passando de fases e encontrando novos armamentos no caminho. A minha preferida era uma arma multi-tiro, que liquidava quase tudo que aparecia acima de minha cabeça e abaixo de meus pés.

Menos de três meses depois, eu já estava em meu segundo “joguinho de tiro”. Continuei matando pessoas em Wolfenstein, em um computador de um primo. Era legal, mas eu só conheceria jogo que realmente prendeu minha atenção e fez com que eu me apaixonasse pelos games cerca de duas semanas depois. Doom era demais. Aquelas aranhas em 16-bit realmente me assustavam, mas para o azar delas eu não tinha piedade. Usei inclusive os macetes IDDQD e IDKFA para destruir tudo o que tinha no caminho, já que na época eu estava pouco me importando em acabar o jogo lealmente. Eu queria era matar monstros.

Minha vida de serial killer continuou depois de Doom. Duke Nukem foi sem igual, foi a primeira vez em que paguei uma stripper para que ela me mostrasse os peitos – ainda que fossem censurados (Shake it, baby!). Eu só sei, enfim, que continuei matando. No PC, no mega drive, no super nintendo e no playstation. Outros consoles eu não tive, mas eventualmente ia à casa de um amigo ou ao fliperama para participar de chacinas. Resident Evil, Silent Hill, Counter Strike, Metal Gear Solid, Syphon Filter, Medal of Honor, GTA, Call of Duty, Quake, Assassin’s Creed, Halo e o escambau. Faltam dedos e neurônios para lembrar de quantos jogos eu participei. E de quantas pessoas eu matei.

De uns anos para cá, parei um pouco com os jogos, mas não parei de matar. Apenas mudei a minha inspiração. Troquei pelos livros, seriados e filmes. O Poderoso Chefão me ensinou a ser mafioso e eliminar quem estivesse atrapalhando os meus negócios. O Iluminado me ensinou a ser um escritor desequilibrado com instinto assassino. Hannibal me ensinou a ser um canibal. Centopeia Humana me ensinou a fazer experimentos bizarros com a raça humana. Dexter me ensinou a matar as pessoas e cortar todas elas em pedacinhos.

Apesar disso, tudo deu certo em minha vida. Mesmo sendo um serial killer, consigo achar tempo para ser jornalista, trabalhar no La Parola, curtir minha namorada e família, fazer churrascos com meus amigos e até para tocar em uma banda.

Eu juro para vocês. Eu sou um serial killer. É, afinal de contas, como os especialistas de facebook e jornalistas de grandes veículos de comunicação tratam as pessoas que jogam muitos games de tiro. Ou as pessoas que são muito influenciadas pela indústria cultural dos assassinatos. Afinal, não existiam psicopatas antes da invenção dos videogames, isto não passa de um fenômeno recente. Nunca, na história mundial, uma criança ou um adolescente matou outra pessoa, né?

Analisem meu histórico e me digam se eu não sou um serial killer. Isto é, se vocês sobreviverem para contar a história.

Siga La Parola:

http://facebook.com/LaParolaOnline
http://twitter.com/LaParolaOnline