John Frusciante: Trickfinger & modo DFU do Acid House

Quando o John Frusciante pintou o circulo vermelho da capa de seu último disco, o décimo segundo trabalho de estúdio (o interessante “Enclosure”), ele estava falando sério: um ciclo foi fechado. Agora em 2015 o guitarrista retorna com mais um trabalho, só que desta vez não estampa seu nome na capa. Para nos mostrar seus lado Acid House, o americano resolveu levar a imersão para outro nível ao reassumir sua alcunha “Trickfinger”, o pseudônimo que frita com base em samples & sintetizadores, e que já tinha lançado um EP, falo de “Sect In Sgt”, de 2012.

Com esse trabalho, suas experimentações atingem um novo grau de eloquência, e surgem como um recomeço criativo para o guitarrista. Esqueça tudo que ele fez até agora, nada no curriculum do cidadão se assemelha a este disco, e creio que daqui pra frente essa seja a língua que ele falará musicalmente.

Em mais uma viagem onde Frusciante é responsável por cada micro vibração sonora, o primeiro full do senhor Trickfinger surge como um play que é formado pelo todo. É impossível fragmentar essa ideia, mais uma vez o conceito de experimentalismo fez questão de criar um trabalho conceito, que apesar de ser dividido em temas, poderia muito bem ser uma coisa só, tamanha a homogeneidade dessa obra.

Track List:

1. After Below
2. Before Above
3. Rainover
4. Sain
5. Exlam
6. 85h
7. 4:30
8. Phurip

São 8 sons e pouco mais de 35 minutos de trocas energéticas que, quando iniciadas, nos mostram claramente como este novo ciclo surge com bastante naturalidade e criatividade. Quando John ainda trabalhava misturando o Rock com approach experimental, creio que seu melhor momento foi quando lançou o “The Empyrean” em 2009, depois disso os trabalhos posteriores ousaram muito, mas só com “Enclosure” que o músico voltou a achar uma fórmula.

Só que aí chegou a saturação, e como o conceito de Acid House é completamente diferente de tudo o que ele fez e o mais imerso que conseguiu chegar eletronicamente, é importante ressaltar que aqui a ideia é toda calcada em camadas, só que sem emular nada semelhante a uma guitarra, são várias samples em convergência com beats, repeats e efeitos que tramam uma linha de raciocínio bastante interessante. Antigamente você ainda achava algum resquício de guitarra, aqui não temos nem pista e por mais assustador que parece, é justamente esse lado que freak que encanta quem navega no mar Trickfinger de Acid House.

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Trickfinger ou John Frusciante

E o mais insano em todo esse processo é que este CD foi gravado em 2008, época que John começou a se engajar na programação e no funcionamento dos utilitários para poder se mover em um novo ramo, realizando seu sonho de parar de escrever de forma convencional e unindo isso a seu desejo de focar no amplo e ainda inexplorado ambiente eletrônico.

Fora que antes desse registro muitas pessoas reclamavam de seus trabalhos sem nenhum embasamento, agora creio que tudo ficará claro, quem escuta isso aqui percebe que a Fender ficou encostada, afinal de contas com os vários sintetizadores que John possui ele pode emular cada nota da guitarra, colocar no tom exato que necessita e unir tudo.

É de longe seu disco onde o conceito eletrônico está mais bem definido e creio que daqui pra frente teremos mais coisas nessa linha, bye bye Stratocaster, hello Roland MC-202. A cada novo EP, single ou Full esse cara consegue romper um paradigma, a cada novo som gravado sua criatividade fica cada vez menos limitada e no final das contas não existem limites físicos entre o som dos sintetizadores e sua imaginação.

Trickfinger - Capa - 2015
Trickfinger (2015)

Hoje, John é tão fluente na programação como era na época que seus riffs exalaram Funk. Desconecte-se do mundo externo, reserve um tempo para você e simplesmente tente romper o outro lado, apreciando o trabalho profundo e significativo que esse cara conseguiu elencar para formar mais um projeto que faz o que apenas os grandes conseguem: promover a evolução musical.

É impressionante o domínio das samples quando tudo parece um caos, é notável ver como cada linha que forma esse complexo sonoro foi imaginada por esse senhor, pois são passagens tão voláteis e com um feeling tão próprio que além de nos espantar pelo domínio do maquinário, nos fazem ver algo que até o momento nunca tinha presenciado: sentimento dentro da música eletrônica, beats melodiosos e sons que conseguem explorar tudo que sai do computador, um controle que chega a assustar, parece que a coisa vai se perder, mas John mantém a rédea curta. Surpreendentemente excelente.