Linha do tempo de mortos e feridos nos protestos

A internet. Se não fosse por ela estaríamos vivendo em uma época em que qualquer manifestação pública fosse repreendida pelas polícias militares. Estudantes, professores, advogados, jornalistas e trabalhadores em geral estariam sendo agredidos sem dó por aqueles profissionais que deveriam proteger a sociedade. O horário nobre da televisão noticiaria para mais da metade da população brasileira  a fúria dos badernistas, dos vândalos, e a exemplar ação da polícia, que “precisou utilizar da truculência” para conter a violência iniciada pelos manifestantes.

Como seria bom se o parágrafo anterior fosse o passado e não o presente. A internet não tem impedido – ainda – que episódios brutais sejam vividos nas ruas das cidades brasileiras, sobretudo nas capitais, mas está disseminando informações que jamais chegariam de outra forma a nosso conhecimento.

A trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade, foi o gatilho que a polícia e a mídia nacional precisavam para finalmente chamar todo mundo de vândalos mascarados. Para a PM, a prerrogativa necessária para descer o sarrafo em todo mundo. Para o jornalismo, divago um pouco mais: Em tempos atuais, não sobra tempo para entender as situações e checar as informações corretas. É preciso noticiar antes que a concorrência. É preciso colocar a culpa em black blocs. Mesmo sendo provado posteriormente que os envolvidos eram duas pessoas sem a mínima noção do que estavam fazendo e que pagarão, com justiça, por tamanha ingenuidade e inconsequência dos atos. Mesmo black bloc não sendo um grupo, mas uma tática – burra e retrógrada – que já foi utilizada em protestos na Alemanha, Estados Unidos e outros países. Mas o tiro já havia sido disparado. E aquela pessoa que não acompanhou mais as notícias, ainda acha que foi esse grupo (SIC), que é ligado ao deputado Marcelo Freixo (WHAT?), o responsável pela morte de Santiago. Capítulo lamentável sim, mas o cinegrafista não foi a única vítima fatal dos protestos.

Santiago Andrade Cinegrafista
A cena mais impactante dos protestos até agora. Mas achar culpados é fácil. Difícil é achar soluções.

Enfim, todas aquelas pessoas que se interessam em saber o que está acontecendo – e não o teatro que é noticiado cotidianamente – resta a internet. E é através dela que o Centro de Mídia Independente do Rio de Janeiro lançou o site “Mortos e Feridos nos Protestos”, uma plataforma que traça uma linha do tempo de todos as pessoas (civis e policiais) que sofreram violência nos protestos pelo Brasil desde junho de 2013, tanto por parte da polícia quanto por parte de outros manifestantes. Como cita parte da descrição do site:

Entendemos também que todos os casos de violência ocorridos nesse contexto, seja contra manifestantes, jornalistas, policiais ou passantes, são resultantes da insistência do Estado em reprimir os movimentos sociais.
Quantas mortes tolera a governamentabilidade?

Na escola, as pessoas aprendem a usar a palavra. No crime, aprendem a usar uma arma. Os manifestantes, em maioria, usam a palavra. A polícia militar, também em maioria, usa armas. Inevitável fazer esta analogia e pensar o quanto é contraditório um Governo que insiste em fazer propagandas de investimento em educação e combate ao crime ao passo que reprime manifestações por mais educação e investe em armamentos de repressão. E outra: Se as autoridades insistem em dizer que o tumulto é causado por “uma minoria de vândalos”, por que atacar toda a massa com gás lacrimogêneo e balas de borracha e não só esta tal minoria?

Acesse e, caso saiba de algum episódio violento e possua provas, colabore: http://mortoseferidosnosprotestos.tk/.

Para não ser tendencioso, coloquei neste artigo dois exemplos (fotos e vídeos) de violência praticada por manifestantes e dois por policiais. Porém, sempre é bom lembrar que a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo publicou, no início de fevereiro, uma planilha com os detalhes das 118 agressões sofridas por jornalistas nas coberturas dos protestos. Deste total, apenas 26 partiram de manifestantes.

http://youtu.be/3MIBKJci7JM

http://youtu.be/ri09eCep-Bw