LSD, Albert Hoffman e os 70 Anos de Psicodelia

LSD cartela

Em 1943, o cientista suíço Albert Hoffman acidentalmente descobriu os efeitos da substância descoberta cinco anos antes, a dietilamida do ácido lisérgico popularmente conhecida como LSD.

Ele atribuiu a descoberta dos efeitos psicoativos do composto a uma absorção acidental de uma pequena porção em sua pele no dia 16 de abril, que o levou a testar em si próprio uma dose maior (250 microgramas) em 19 de abril.

Albert Hoffman
Dr. Albert Hoffman

Nesse primeiro teste, Hoffman foi acompanhado de um médico que não diagnosticou nenhum sintoma físico anormal, exceto as pupilas dilatadas.

Porém essa experiência foi atordoante para o cientista, que ficou apavorado achando que teria sido possuído por demônios, com fortes alucinação de que sua vizinha era uma bruxa e que seus móveis estavam o ameaçando.

Após acabar o efeito, o cientista percebeu a alta dose que havia ingerido e voltou a fazer testes com doses muito menores, o que resultou em efeitos mais amenos e surpreendentes.

Maravilhado e intrigado com os efeitos do LSD, Albert Hoffman percebeu a droga como importante substância psiquiátrica experimental e lançou-a à comunidade científica.

Delysid - O LSD distribuído pelo Laboratório Sandoz gratuitamente
Delysid – O LSD distribuído pelo Laboratório Sandoz gratuitamente

O LSD foi fornecido a pesquisadores gratuitamente pelo Laboratório Sandoz até 1966, com a marca “Delysid”. Outro composto psicoativo distribuído gratuitamente junto ao LSD era a Psilocibina, substância encontrada em cogumelos.

O uso destes compostos por psiquiatras para obterem um entendimento subjetivo melhor de como era a experiência de um esquizofrênico foi uma prática aceita.

Muitos usos clínicos foram conduzidos com o LSD para psicoterapia psicodélica, geralmente com resultados muito positivos.

O LSD foi inicialmente utilizado como recurso psicoterapêutico e para tratamento de alcoolismo e disfunções sexuais e obteve grandes êxitos.

Com o movimento do cenário artístico psicodélico inglês na década de 1960, o consumo do LSD difundiu-se nos meios universitários norte-americanos, hippies, grupos de música pop e ambientes literários.

A maior referência disso foi a música dos Beatles lançada em 1967 Lucy in the Sky with Diamonds.

Capa do disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Banda da música Lucy in the Sky with Diamonds
Capa do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Banda da música Lucy in the Sky with Diamonds

Pesquisas Clandestinas com o LSD

O LSD também foi utilizado em interesses do exército americano e britânico, utilizando em interrogatórios e em tentativas de controle de mente.

A CIA conduziu diversas pesquisas sobre o LSD, das quais a maioria foi destruída. O LSD foi a área central de pesquisa do Projeto MKULTRA, um codinome para o projeto da CIA de controle de mentes. As pesquisas tiveram início em 1953 e continuaram até 1972.

Alguns testes também foram conduzidos pelo Laboratório Biomédico do Exército dos Estados Unidos. Voluntários tomaram LSD e então passaram por uma bateria de testes para investigar os efeitos da droga nos soldados. Baseado nos registros públicos disponíveis, o projeto parece ter concluído que a droga era de pouco uso prático para o controle de mente, levando o projeto a desistir do seu uso.

Os projetos da CIA e do exército norte-americano se tornaram muito controversos quando eles vieram ao conhecimento da população nos anos 70, já que os voluntários dos testes não eram normalmente informados sobre a natureza dos experimentos, ou mesmo se eles eram testados nos experimentos. Muitas pessoas testadas desenvolveram doença mental severa e até cometeram suicídio após os experimentos. A maioria dos registros do projeto MKULTRA foi destruída em 1973.

Na Inglaterra o LSD era chamado por pesquisadores de “A droga da verdade”. Nos testes feitos pelo governo britânico, os voluntários também não foram informados que estavam consumindo LSD. Depois de manter os testes em segredo por muitos anos, o governo aceitou em 2006 pagar aos voluntários uma compensação financeira. Assim como a CIA, os britânicos decidiram que o LSD não era uma droga útil para propósitos de controle de mente.

Os professores de Harvard, Dr. Timothy Leary e Richard Alpert estavam convencidos do potencial do LSD como ferramenta para o crescimento espiritual.

Havard forneceu uma quantia em dinheiro ao Dr. Leary para estudar os efeitos do LSD em 400 voluntários cientes do consumo da substância durante os testes.

Entre eles 90% afirmara que gostariam de repetir a experiência, 83% disseram ter aprendido algo ou ter tido uma “iluminação” (insight) e 62% disseram que o LSD mudou suas vidas para melhor.

O LSD também é conhecido como doce, papel e ácido
O LSD também é conhecido como doce, papel e ácido

A Regulamentação do LSD

A droga foi proibida em 1967 pelos Estados Unidos durante a campanha de guerra contra as drogas iniciada por Richard Nixon, que fez pressão para que outros países seguissem com a restrição.

Porém a substância é consumida até hoje no mundo inteiro através do tráfico ilegal.

Efeitos do LSD

Não existem estudos que comprovem a overdose por LSD, mesmo doses maciças são toleradas devido ao mecanismo de ação da droga, que se dá pelo antagonismo dos receptores pré-sinápticos da serotonina, diminuindo a concentração de serotonina na fenda sináptica.

Isso justifica a grande incidência de morte por suicídio pelos usuários de LSD, já que a carência de serotonina produz efeitos depressivos.

Por consequência, inexiste dose letal para a droga em sua forma pura, implicando que aumentos na dosagem não levam a aumentos no efeito tóxico, a partir de uma dosagem limite, sendo que o excesso é eliminado pelo organismo da forma usual (desintoxicação hepática e eliminação pela urina dos metabólitos solúveis).

Os efeitos do LSD variam conforme a “psiqué” do usuário, sendo considerado seu contexto físico, psicológico e ambiental momentâneo, podendo ser agradável ou não.

O LSD pode provocar alucinação (auditivas e visuais), ilusões, grande sensibilidade sensorial (cores mais brilhantes, percepção aguçada), sinestesia, flashbacks, paranoia, alteração de noção temporal e espacial, sentimento de bem-estar, êxtase, euforia, angústia, pânico, ansiedade, dilatação das pupilas, aumento da pressão arterial e do ritmo cardíaco.

Esses efeitos são atribuídos à alteração temporária do sistema nervoso central e não à ação da substância sobre a massa corpórea como um todo.

Cena do filme Medo e Delírio em Las Vegas baseado no livro de Hunter Thompson que relata em detalhes os efeitos de drogas psicoativas como o LSD
Cena do filme Medo e Delírio em Las Vegas baseado no livro de Hunter Thompson que relata em detalhes os efeitos de drogas psicoativas como o LSD