Mais John Lennon e menos Marco Feliciano, por favor

Respeitar o pensamento alheio. Respeitar as diferenças culturais. Respeitar a religião de outrem. Respeitar, em suma, os outros. Respeito é uma palavra forte, necessário e, vamos dizer assim, de respeito. Frasezinha manjada: “Respeite para ser respeitado”. Manjada, mas básica, primordial, necessária para quem não quer ser chamado de filho da puta um dia. E nada melhor do que deixar a mãe fora das discussões. Por isso, existe o respeito. Para, além de não colocar a mãe dos outros na jogada, ter a consideração dos outros, independente de crença, gosto musical, clubístico ou casa de massagens preferida.

John Lennon, ainda no auge da beatlemania, em 4 de março de 1966 e na flor de seus 25 anos concedeu uma entrevista à jornalista Maureen Cleave, do Evening Standard, tablóide londrino. Maureen constatou que John andava lendo muito sobre religião e que, segundo ele, o cristianismo sumiria logo. John acrescentou que, na época, os Beatles estavam mais populares que Jesus Cristo e que não sabia quem iria desaparecer primeiro, se seria o cristianismo ou o rock’n’roll. A entrevista foi publicada na Inglaterra sem grandes repercussões, ninguém se importou com a indagação do ex-Beatle. Estava tudo tranquilo. Até o dia 29 de julho do mesmo ano, quando a revista teen DATEbook publicou na capa a frase de John: “Eu não sei quem sumirá primeiro, se é o rock’n’roll ou o cristianismo”

datebook_july_1966
Capa da extinta DATEbook. Julho de 1966.

A capa de uma revista adolescente com uma manchete sensacionalista transformou tudo em caos na época, uma época muito mais apegada à fé do que hoje em dia, diga-se de passagem.  Discos dos Beatles foram queimados em fogueiras por fanáticos religiosos que interpretaram a frase como uma blasfêmia gigantesca e rádios apegadas ao cristianismo excluíram as músicas dos Beatles de suas programações. Mas os Beatles sobreviveram, John Lennon pediu desculpas explicando que foi mal interpretado e colocado fora de contexto e tudo ficou marcado como um grande mimimi religioso.

Quatorze anos depois, Mark Chapman, um beatlemaníaco se encontrou com o ídolo John Lennon e o matou com quatro tiros em frente ao hotel Dakota, em Nova York, onde John estava hospedado. De acordo com o deputado federal e presidente da comissão de direitos humanos e minorias da câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), quem matou John não foi Mark Chapman, e sim Deus (vídeo abaixo). Seria então Mark Chapman um grande injustiçado? Estando encarcerado há 33 anos por um ato de Deus? Faria Deus o mal às pessoas? Calma! Espera! Não é o satanás que faz o mal? E Deus que faz o bem? Estou confuso, acho que faltei essa aula na catequese.

Por sinal, John Lennon foi tão castigado por Deus que, após essa declaração, gravou com os Beatles os álbuns: Revolver, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Magical Mystery Tour, White Album,  Yellow Submarine, Abbey Road e Let It Be, além de uma ótima carreira solo, incluindo a universal canção Imagine, que todo o mundo conhece, de cristãos a não-cristãos.

Feliciano afirma que foi Deus quem matou John, falando erradamente que foi com três tiros. Ainda vibra, comemora e berra de emoção : “este é para o pai, para o filho e para o espírito santo”. Diz que ninguém zomba de Deus e sai impune, mas ao mesmo tempo associa e chama indiretamente o seu Deus de assassino. Mais uma coisa: O que aconteceu com o mandamento “não matarás”? Acho que faltei essa aula de catequese também.

1966-john-lennon-london-evening-standard-maureen-cleave (1)
Matéria original publicada no Evening Standard de Londres. Nenhum destaque à famosa frase.

Falta de respeito. Não sou apegado às religiões, mas as respeito. Respeito todas elas, do cristianismo ao candomblé, pois não sou ninguém para dizer que certa crença está certa ou está errada.  Já um pastor que prega a falta de respeito aos seus fiéis não merece um pingo do mesmo. Merece ser apedrejado (sentido figurado, ok? ao contrário da Inquisição da Igreja Católica eu sou contra a tortura) e merece também ter a mãe colocada no meio do assunto. Desculpe, mas é a sociedade. Quem é desrespeitoso é filho da puta, são sinônimos.

Fica a pergunta a para o pastor que injeta abobrinha na cabeça das pessoas: Vamos supor que quem criou o mundo foi Deus. Portanto, foi Deus quem criou o ser humano como um ser racional, capaz de pensar. Ok? Ok! Então que por que proibir o ser humano de pensar? …

Fica a dica para o deputado:

John Lennon – God

God is a concept
By which we measure our pain
I’ll say it again
God is a concept,
By which we measure our pain
I don’t believe in magic
I don’t believe in I-Ching
I don’t believe in Bible
I don’t believe in Tarot
I don’t believe in Hitler
I don’t believe in Jesus
I don’t believe in Kennedy
I don’t believe in Buddha
I don’t believe in Mantra
I don’t believe in Gita
I don’t believe in Yoga
I don’t believe in Kings
I don’t believe in Elvis
I don’t believe in Zimmerman
I don’t believe in Beatles
I just believe in me
Yoko and me
And that’s reality
The dream is over,
What can I say?
The dream is over
Yesterday
I was the dreamweaver,
But now I’m reborn
I was the walrus,
But now I’m John
And so dear friends,
You just have to carry on
The dream is over

Siga La Parola:

http://facebook.com/LaParolaOnline
http://twitter.com/LaParolaOnline