O acesso a diversos meios de transporte, com os mais variados preços, fazem com que uma viagem à Europa não se resuma a um país apenas.
Durante o ano em que vivi na Itália, uma companhia aérea low cost se tornou minha companheira inseparável, pela grande disponibilidade de destinos ofertados e pelo baixo preço, óbvio.
Em minha primeira viagem porém, por ignorância, paguei por quase todos os opcionais que a companhia disponibilizava, como escolha de assento, seguro, excesso de bagagem, etc. No final, o preço do bilhete ficou o dobro do inicial. Perdi em euros, mas ganhei em aprendizado.
Na segunda vez, decidi pagar somente o valor do bilhete, eliminando todos os itens desnecessários, principalmente o excesso de peso da bagagem. Cada passageiro tinha direito a portar uma bagagem de 10kg gratuitamente. Assim, minha primeira mudança foi trocar a mala por uma mochila.
Da primeira vez levei uma câmera fotográfica profissional, cheia de recursos que eu nem sabia usar. Ok, as fotos ficaram lindas, mas em contrapartida, meus ombros e costas doíam por ter carregado aquele peso o dia inteiro. Sem contar o espaço que ocupava na bagagem.
Foto: Magda Barboza
Nas viagens seguintes, decidi que poderia ter o mesmo resultado usando o telefone, que cabia no bolso.
De lambuja descobri que quanto MENOS fotos eu tirava, MAIS eu aproveitava.
Aprendi então a fotografar com os olhos, e ganhei mais prazer nas viagens.
Graças àquele medidor de bagagens eu aprendi que o simples pode ser tudo o que precisamos! Mais do que minha bagagem, minha vida ficou mais leve depois daquela lição.
Cada escolha que fazemos é uma pequena revolução. Assim, foi natural que meu modo de consumo também fosse se tornando minimalista.
No início eu queria comprar uma lembrancinha para todo mundo, cada coisa me lembrava alguém em especial. Depois aprendi que se não tinha espaço na bagagem, nem adiantava gastar meu tempo em lojas. O único compromisso então era curtir cada momento, sem me preocupar com a palavra COMPRAR.
E foi assim que percebi que quanto menos coisas eu acumulava, mais tempo livre eu tinha para mim. E aprendi a desapegar.
Hoje sei que ter pouco e viver com pouco não significa frustração ou menos intensidade de vida. Significa priorizar o que de fato interessa e é importante para viver bem.
A partir do momento em que a simplicidade se tornou parte da minha vida, sobrou espaço e tempo para conviver com os outros com mais qualidade, olhar e curtir intensamente quem está ao meu lado.
A parábola do Sábio e o turista retrata o que aprendi com o medidor de bagagens:
Conta-se que no século passado, um turista americano foi à Índia, com o objetivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
– Onde estão seus pertences? Perguntou o turista.
O sábio olhou ao seu redor e perguntou também:
– E onde estão os seus…?
– Os meus?! Surpreendeu-se o turista.
– Mas estou aqui só de passagem!
– Eu também… – concluiu o sábio.
