O Ano Mais Violento de J.C. Chandor

J.C. Chandor é um cineasta de mão cheia. O americano já havia mostrado intenso preciosismo e sensibilidade nos longas Margin Call (2011) e na odisseia silenciosa Até o Fim (2013), premiado filme que colocou o veterano Robert Redford novamente em ascensão. Agora, o diretor e roteirista entra em O Ano Mais Violento, um thriller sufocante e de agonia onírica, protagonizado pelo talentoso Oscar Isaac e da belíssima e também talentosa, Jessica Chastain.

A história da produção é situada no início dos anos 80, na cidade de Nova York. Época na qual a criminalidade estava em alta em todos os setores sociais. Eram roubos, estupros, corrupções e inúmeras quebras morais. Acompanhando o imigrante Abel Morales (Isaac) e sua esposa Anna (Chastain) buscando expandir os seus negócios entorno da podridão que assolava a “Big Apple”, decadente dia após dia.

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Chandor mostra desde a cena inicial que o filme não seria apenas uma narrativa sobre os jogos sujos e apocalípticos dos negócios empresariais, mas também tratando da jornada de um homem tentando manter-se limpo, mesmo cercado pelo caos. Um homem de família querendo integridade e legitimidade nos negócios. Entretanto, a transformação do personagem sofrida ao longo dos 125 minutos de filme quebra qualquer expectativa que se poderia imaginar.

O cineasta usa de planos bem interessantes focados em Isaac para percorrer tais transformações do personagem nas mais variadas situações. O roteiro, munido de diálogos sublimes e bastantes reflexivos, somam ao contexto das outras personas apresentadas durante o filme. Junte a isso uma fotografia poética e melancólica, lembrando muito algumas produções europeias e você é contemplado com um filme gracioso e ímpar. Referências a outras importantes obras do cinema que tratam do mesmo tema, também se fazem presente. Existe inclusive, até algumas doses homeopáticas de saudosismo aos clássicos Scarface e O Poderoso Chefão no sentido de O Ano Mais Violento ter um tom ousado e sombrio quando procura submergir na jornada do protagonista.

O Ano Mais Violento é certamente um filme a ser visto. Apesar do silêncio dos olhares e da trama pouco corrida, se comparado com o título da produção, o fato de ter sido um dos anos mais violentos de história americana não apenas no viés físico, mas também das condições humanas e das escolhas feitas para almejar o tão sonhado american dream. J.C. Chandor certamente estará, dentro de poucos anos, figurando entre os melhores cineastas da nova geração.