O Golpe Duplo de Will Smith

O ator Will Smith é certamente um dos mais queridos e carismáticos dentro e fora da indústria cinematográfica. Afinal, quem não passou inúmeras tardes acompanhando a finada série Um Maluco no Pedaço? De lá pra cá foram inúmeros clássicos protagonizados pelo astro de sorriso fácil e apelo contagiante nas telonas, eximindo-o até mesmo de algumas produções esquecíveis encabeçadas pelo mesmo. Infelizmente, nem mesmo a fama de “cara legal” foi o suficiente para salvar o seu mais recente trabalho, Focus, intitulado com maestria no mercado nacional como Golpe Duplo. E que golpe.

Escrito e dirigido pela dupla Glenn Ficarra e Jon Requa, a mesma de O Golpista do Ano (2009) e do excelente Amor a Toda Prova (2011). Em Golpe Duplo, conhecemos o mundo de um trapaceiro famoso, Nicky (papel de Smith) e sua relação com uma jovem iniciante na arte do crime, Jess, vivida por Margot Robbie, a nova sensação de Hollywood e que já abocanhou o papel da personagem Arlequina no vindouro Esquadrão Suicida, projeto da Warner que irá intercalar com o tão esperado filme da Liga da Justiça. Mas deixando de lado o assunto de HQs nos cinemas e voltando ao filme, Golpe Duplo tinha tudo para ser um filme despretensioso e articulado, dado o talento da dupla de diretores e roteiristas em conduzir diálogos afiados e visões interessantes sobre os personagens, mas ao invés disso, temos uma produção previsível – ainda que repleta de reviravoltas e mudanças de atos constantes. Mudanças estas, que acabam prejudicando demais o filme estrelado por Smith.

Will-Smith-Margot-Robbie-Focus-Golpe-Duplo

Ficarra e Requa tentaram imprimir um ritmo alucinante e que deixasse o público sem saber os próximos passos da trama, mas os diálogos rasos e o romance intercalado quase que como fosse uma jornada épica sobre o amor acabam dando ao filme o tom desmedido, e por vezes, cansativo. Mesmo com a participação de Rodrigo Santoro (ele também esteve em O Golpista do Ano) – o brasileiro aqui talvez tenha tido sua melhor e mais extensa participação no cinema americano; tantos detalhes interessantes a serem melhores explorados e até mesmo saudando os clássicos filmes de golpistas malandros do passado não deixam rastros na trama dos diretores. Por sua vez, Smith em alguns momentos pareceu estar misturando papéis passados em um só, sendo de fácil reconhecimento o jeitão estilo Hitch – Conselheiro Amoroso.

No seu ápice, quando poderia apresentar de fato algo singular e espantoso para uma trama calejada, Golpe Duplo insistiu por percorrer o caminho mais fácil e de final bonitinho com a lição de moral característica das produções anos 90. Visto por esse prisma, o título da produção é certeiro. Fora um baita golpe duplo, tanto para o título quanto para o conteúdo da produção. É um filme que diverte sem grandes expectativas, mas para quem gosta de Will Smith, bom, o Carlton e tio Phil fizeram imensa falta.