Entre surpresas e estatuetas já esperadas, premiação continua dividindo opiniões

A verdade é que há alguns anos o Oscar está sendo nivelado por baixo. Não que os filmes concorrentes nos últimos tempos sejam indignos da premiação, mas parece que o avanço digital e da participação crescente do público e dos jornalistas nas redes sociais criaram uma cultura da apresentação aparentar ser mais um concerto a ser contemplado ao invés da concentração e celebração do cinema.

A 87ª cerimônia de entrega da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas fora marcada por uma bela homenagem ao cinema e os mais incontáveis clássicos com a excelente habilidade do apresentador da vez, o ator Neil Patrick Harris. Até aí tudo caminhava para uma noite repleta de nervosismo entre quem venceria os principais prêmios e a expectativa de Harris encantar o público com o seu carisma e boas piadas. Acontece que Harris não era Barney Stinson da finada How I Met Your Mother, e os roteiristas da cerimônia pecaram nas falas clichês e nas piadas, por vezes, dignas de constrangimento alheio. Ainda assim, Harris manteve-se firme o quanto pôde.

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Jack Black | Neil Patrick Harris | Anna Kendrick
Foto: Kevin Winter/Getty Images

Mas tratando de cinema, a noite reservou algumas surpresas entre os vencedores, comoção por discursos ávidos e os clássicos sorrisos do tipo “ – Já era esperado que ele ganhasse”. Logo de cara JK Simmons ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por sua interpretação monstruosa em Whiplash – Em Busca da Perfeição. Considerado o grande azarão entre os filmes selecionados, a história do jovem baterista de jazz ainda abocanhou os prêmios de Melhor Mixagem de Som e Melhor Montagem.

A Teoria de Tudo, longa baseado na vida e relacionamento de Stephen Hawking com a sua esposa, teve apenas o ator Eddie Redmayne como representante, ficando com a categoria de Melhor Ator. Nesse meio tempo, tivemos o belo discurso de agradecimento da atriz Patricia Arquette – que venceu como Melhor Atriz Coadjuvante por Boyhood, a vitória merecida de Selma na categoria de Melhor Canção Original por Glory e apresentação comovente de Lady Gaga homenageando os 50 anos do clássico A Noviça Rebelde.

Outros prêmios mantiveram os seus favoritismos como Interestelar vencendo por Melhores Efeitos Visuais e a Disney consagrando-se em todas as categorias que envolviam animações, incluindo a de melhor longa animado do ano para Operação Big Hero. Julianne Moore comprovou o favoritismo na categoria de Melhor Atriz por sua brilhante atuação em Para Sempre Alice e O Jogo da Imitação surpreendeu muitos ao ganhar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado, prêmio recebido pelo roteirista Graham Moore – que fez um importante discurso na noite de ontem.

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Julianne Moore
Foto: John Shearer/Invision/AP Photo

Boyhood e Sniper Americano, que entravam forte na briga por suas eloquências diversificadas e pelos enormes profissionais consagrados envolvidos ficaram devendo. Sniper Americano ganhou apenas o prêmio de Melhor Edição de Som. O Grande Hotel Budapeste não surpreendeu, conquistando praticamente todos os prêmios técnicos da noite – algo que nos últimos anos, seja por ironia do destino ou simples coincidência, acaba tirando o gostinho de vencer nas categorias principais.

Para o Brasil, ficou mais o quase quando o Sal da Terra perdeu na categoria de Melhor Documentário. No prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, o polonês Ida bateu o grande favorito, o russo Leviatã.

No fim, a briga fora vencida pelo cultuado e controverso Birdman, vencendo Melhor Filme, Fotografia, Roteiro Original e Melhor Diretor, levando o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu ao topo de Hollywood. Na entrega da estatueta de Melhor Filme, Sean Penn fez uma piada inocente sobre quem deu o Green Card para Iñárritu. A piada reverberou de forma negativa na mídia, comprovando o refletido no início do texto sobre a mídia preocupar-se mais em criar compartilhamentos sobre a cerimônia do que necessariamente discutir sobre a qualidade das produções apresentadas.

Foto: Kevin Winter/Getty Images
Birdman
Foto: Kevin Winter/Getty Images

Do mais, o saldo da noite do dia 22 de fevereiro de 2015 foi positivo. Foram grandes filmes concorrendo e cada qual com a sua importância no mundo da sétima arte. Apesar disso, os critérios desconhecidos da Academia continuam deixando a premiação por vezes tediosa e Hollywood ainda desnorteada, pois ao mesmo tempo, que ousa na criatividade para realizar melhores filmes, prefere especializar-se somente em um único viés narrativo, deixando público e críticos sedentos por ver O FILME a ser batido. Não teve ano passado e tampouco este ano. Veremos em 2016.