Royal Blood: Duplex Cibernético

Esse ano o Jimmy Page deu o que falar. Além de reviver seus dias de glória com os lançamentos remaster do Led Zeppelin, o grande ZoSo ainda segue trocando farpas com o seu ex companheiro de carreiras de cocaína no Led, o vocalista Robert Plant, velhaco irredutível (assim como o primeiro), que se mostra absolutamente negativo quanto as chances de uma nova reunião.

Só que no intervalo dos relançamentos e da briga de comadres, o guitarrista resolveu reservar um tempo para falar do que ele mais gosta e sabe, música. Jimmy resolveu usar de toda sua influência para fazer uma indicação para o mundo todo, e quando o rei fala os súditos correm atrás do prejuízo. Foi só ele elogiar o Royal Blood que muita gente resolveu ir atrás do duo britânico.

Royal Blood (4)

Royal Blood CapaE creio que pouquíssimos se arrependeram, a dupla formada em 2013 já está famosíssima ao redor do globo, e assim como o cidadão que indicou o som, vem gozando de uma grande notoriedade com tenra idade, e o responsável por isso é o LP debutante da dupla, o interessante autointitulado, lançado dia 25 de agosto de 2014.

Diferentemente de muitas pessoas que descobriram este interessantíssimo som, este que vos escreve não foi atrás porque ouviu da boca do mestre Page, aliás só fui saber de sua indicação alguns dias após descobrir este groove por meio de um grande comparsa do mesmo, um pequeno gafanhoto com o qual sempre troco figurinhas para ver o que rola de bom no ramo do barulho que gera brigas na vizinhança.

Mas voltando ao texto, creio que foi benéfico ter descoberto esse som por meio de terceiros, pois serve como uma bela prova dos 9 para chegar à conclusão de que os caras estão de fato ficando grandes, e é bom que se diga, por pura e simples competência.

Diferentemente das duplas tradicionais, a união de Mike Kerr e Ben Thatcher surge com um elemento diferente, mas que mostrando o talento da dupla não foi sacado por muitas pessoas que ouviram o disco logo de primeira. Aqui o conceito bateria-guitarra é trocado pelo interessantíssimo embate de quatro cordas-bateria, e isso é um dos grande segredos deste disco.

A timbragem é a grande sacada. No primeiro momento você escuta e pensa: Ok, temos aqui uma linha meio inspirada na filosofia Kyuss da cadeia alimentar… Guitarra com amplificador de baixo…Mas não, é só baixo, e o menino Kerr é bom de riffs. A química com seu companheiro flui muito fácil, e a batera do comparsa faz até eco enquanto a dupla destila o fino do rock garageiro moderno, abrindo a toca do veículo com “Out Of The Black”.

http://youtu.be/-_3mNCaJgNM

Tirando esse caráter meio “Morphine” com o lance do baixo, esses caras me impressionaram pela criatividade, tanto nas linhas de baixo quanto nas linhas de bateria. Não é um peso descomunal, mas é insistente e sempre surge com nuances que acabam guiando a audição para novos ares e retornando sem aviso prévio. Fora que a forma energética com a qual a banda desenvolve o barulho deixa o ouvinte bem compenetrado na audição, e “Come On Over” mostra essa concentração.

O disco é curto, são apenas dez faixas e cerca de 33 minutos, mas a reverberação consome o ouvinte. Você não consegue parar de ouvir, o cheiro de novidade é fortíssimo, “Figure It Out” por exemplo conta até com solo de baixo e um clipe chapadíssimo. Aliás, os vídeos são um talento nato desses americanos, e a voz meio alternativa de Mike, mesmo não sendo nada excepcional, se mostra plenamente adequada ao contexto que a banda criou como conceito.

Mas para não estragar a apreciação de temas como a ácida “You Can Be So Cruel”, muito menos da competentemente paranoica “Blood Hands”, não me venham com: “Isso aí parece Black Keys e lembra White Stripes”. Não existe nada de similar, nem o branco do olho é parecido.

O White Stripes estava numa veia mais setenta e analógica, o Black Keys aposta em algo mais pop e rotineiro, sendo que esses caras por outro lado remodelaram uma vertente e a deixaram completamente ajustada aos padrões atuais, invertendo o conceito do “Back To The Future”. Isso é Royal Blood e ponto final, não vai mudar sua vida, mas você vai ouvir bastante, “Little Monster” cola nos fones…

A molecada está boa de riff hoje em dia, um disco para se abrir a cabeça para as novas sonoridades. Quando acabar sua caixa d’água vai se expandir tal qual é retratado na chapadíssima arte desse belo disco, feita por Dan Hillier, e sua aparente inspiração dentro da fuga subversiva da inquisição.