The Verve – Urban Hymns (1997): resenha do clássico disco da banda

Urban Hymns é um disco tão longo quanto não cansativo. Basta apertar o play e 75 minutos depois vão se passar como se fossem apenas 30.

The Verve se separou em 1995 e voltou dois anos depois para lançar essa obra-prima. O vocalista Richard Ashcroft reuniu a banda com um novo integrante, Simon Tong, guitarrista e tecladista.

Entretanto o cara dos timbres da banda, o outro guitarrista, Nick McCabe ainda estava fora após dissidências com o vocalista. Ashcroft consegui convencê-lo mais tarde e o resultado está aí, essa maravilha do rock inglês.

Um disco quase perfeito, com as músicas fluindo de maneira natural, encaixando-se de forma coerente entre si. É dividido entre baladas reflexivas e ritmos mais enérgicos, ou um britpop diferenciado com groovies e sonoridades experimentais, muitas delas hipnóticas.

Foi gravado no Olympic Studios (já fechado), renomado estúdio no sul de Londres, casa que abrigou gravações como Are You Experienced? e Let It Bleed. Aclamado pelo público e pela crítica foi escolhido o álbum britânico do ano pelo Brit Awards em 1998.

A produção de Urban Hymns é do próprio The Verve, Chris Potter e Martin Glover, o Youth. Lançado pelo selo Hut em 29 de setembro de 1997.

O projeto gráfico do álbum é de Brian Cannon e a capa mostra uma curiosidade, Nick McCabe olhando em direção oposta ao resto do grupo.

The Verve - Urban Hymns 1. Bittersweet Symphony

A música mais famosa do The Verve e um hino do britpop. Garantiu o lugar do The Verve na história do rock mundial.

Se a banda fosse um one hit wonder essa seria a faixa escolhida. Mas não é, tem muito mais no The Verve. Tem ainda mais 14 faixas líricas, onírias, psicodélicas e introspectivas como essa primeira.

Bittersweet Symphony foi alvo de um processo judicial e os créditos acabaram ficando assim: Jagger/Richards.

Explicação: A famosa orquestração em loop que percorre a música inteira é um sampler de uma versão de Andre Loog Oldham de The Last Time dos Rolling Stones. O Verve perdeu na justiça todos os royalties da música, e sua composição mais famosa foi para o bolso de um dos empresários mais ligeiros do rock, Allen Klein, dos Stones, detentor dos direitos autorais.

O processo é uma profunda falta de sentido, sendo que toda a letra foi composta por Richard Ahscroft. Ironicamente, após o resultado do processo judicial, Ashcroft falou o seguinte: “Essa é a melhor música que Jagger e Richards escreveram nos últimos 20 anos. É o maior hit deles no Reino Unido desde Brown Sugar”.

And I’m a million different people from one day to the next.

2. Sonnet

O quarto e último single de Urban Hymns. Quase uma reza.

Yes, there’s love if you want it. Don’t sound like no sonnet, my lord.

3. The Rolling People

Puro britpopismo nessa música, são 7 minutos com uma linha de baixo praticamente única se destacando do início ao fim, dedilhados de guitarra, efeitos e muitos bends.

But here we are the rolling people. Can’t stay for long. We gotta go.

4. The Drugs Don’t Work

Single que atingiu número um nas paradas britânicas. Uma música emocional, inspirada na morte do pai de Richard Ashcroft. O vocalista assistiu seu pai morrer de câncer aos poucos enquanto os remédios que tomava não surtiam mais efeitos.

Now the drugs don’t work. They just make you worse. But I know I’ll see your face again.

Para o produtor Chris Potter, foi o melhor vocal que ele já registrou.

5. Catching The Butterfly

Uma doideira. McCabe faz uma sonoridade própria na guitarra do início ao fim. Enquanto brincava com pedais, descobriu o efeito e a música se criou, com a letra e melodia de Ashcroft.

A psicodelia da música transparece que tudo faz parte de um sonho. Um dos pontos altos do disco. In my lucid dreams, canta Ashcroft repetidamente.

6. Neon Wilderness

Uma poesia em um acompanhamento psicodélico. Uma espécie de interlúdio beirando ao desespero.

In a neon wilderness He was restless Escape loneliness Find a new address.

7. Space and Time

Fim da melancolia, mais uma música reflexiva sobre a vida e, nesse caso, o tempo e o espaço. Termina com vocais atravessados cantando como se fosse um mantra, repetindo:

We have existence and it’s all we share (Keep on pushing ‘cause I know it’s there).

 Richard Ashcroft, Britpop

8. Weeping Willow

Richard Ashcroft tem o talento de escrever músicas tristes e depressivas com melodias bonitas e pegajosas. Uma música que carrega a tristeza na letra e esperança na melodia.

I hope you see like I see. I hope you see what I see I hope you feel like I feel.

9. Lucky Man

Outro ponto alto do disco. Lucky Man é uma música maravilhosa, empolgante, envolvente e viva.

Happiness coming and going. I watch you look at me, watch my fever growing. I know just where I am.

Nota 10.

10. One Day

Mesmo começando devagar, com Ashcroft no piano, lentos dedilhados de cordas e sendo notoriamente uma balada, não é uma música que não empolgue. É uma balada positiva, de expectativa e crença na vida.

Oh, don’t you want to find? Can’t you hear this beauty in life?

Outro grande destaque do disco.

11. This Time

A maioria dos discos começam a cansar a partir desse ponto. Porém, This Time não deixa isso acontecer. The Verve soube organizar muito bem a ordem das músicas. Aqui volta a um ritmo mais enérgico para não cansar a audição.

This time, this time. This time I’m gonna rise into the light. In or out of time.

A característica de repetir frases de Ashcroft é presente nessa música. “This time” é repetido incontáveis vezes. The Verve

12. Velvet Morning

A básica alternância entre uma balada e um ritmo e groovies. Essa é uma das músicas mais tristes do disco. Não dá para dizer que aqui há esperança. Aqui é pura depressão mesmo.

And my feelings they’ve always been betrayed. And I was born a little damaged man. And look what they made.

13. Come On

A música mais comprida do disco tem a participação de Liam Gallagher do Oasis como vocalista de apoio.

Um britpop com baixo repetitivo, guitarras sobrepostas, bends, distorções, wah-wahs, saturações, vocais atravessados, ecos e toda aquela loucura do final dos anos 90

No final da música, desabafos: This is a big fuck you! Come on!