Sobre o segundo álbum d’O Terno: Excelente!

Tenho orgulho de dizer que a primeira vez que ouvi O Terno não foi por indicação de alguma alma. Na verdade foi uma indicação indireta, mas não lembro de quem. Só lembro que apareceu na minha timeline do feice “Fulano curtiu O Terno“, aí fiquei intrigado e fui pesquisar sobre essa banda de nome legal. Acabei ouvindo uma música chamada “Zé, Assassino Compulsivo”. Minha reação foi: HAHAHAHA SENSACIONAL!

Dois anos depois, a reação em várias músicas do novo álbum do trio continua a mesma. O Terno acaba de lançar seu segundo álbum, chamado (adivinha?) O Terno.

A banda – formada por Tim Bernardes (guitarra e vocal), Guilherme d’Almeida (baixo) e Victor Chaves (bateria) – fez sua estreia com o álbum “66”, em 2012. No ano seguinte lançou o baita single “Tic Tac – Harmonium” e participou do disco “Tribunal do Feicibuqui”, de Tom Zé. No novo trabalho do trio a sonoridade alcançada atingiu – ou a sonoridade atingida alcançou? – níveis atemporais, sendo um sucesso mundial até mesmo antes de seu lançamento (ver vídeo abaix0).

O Terno é um álbum que merece ser ouvido sem mais nada a ser feito. Sem conversar com os amigos no feice, sem trabalhar, sem se distrair com os vizinhos que estão fazendo bizarrices na janela do outro lado da rua, sem nada. Depois sim, é recomendado que se ouça sempre, mas você precisa primeiro não só prestar atenção, mas prestar atenção com atenção. Explico.

O experimentalismo come solto no álbum. Instrumental e poeticamente. Algumas estrofes, bem compridas, parecem um parágrafo de algum livro de um escritor beatnik. É como se o trio tivesse composto a música na maior espontaneidade possível e já gravado na hora, sem pensar muito no que mudar ou tirar ou acrescentar ou se a rima rima ou não rima ou se o refrão vai pegar ou não vai pegar ou qualquer outra preocupação que desaceleraria o processo e o momento e acabaria quebrando o ritmo da ideia, fazendo com que tudo o que fosse falado já caísse em um esquecimento repentino, não sei, pode não ter sido, mas a impressão que tenho é que foi assim, em um fluxo de pensamento contínuo perfeito como a essência e a mente da casca de banana.

O-Terno-(2014)---Capa

Algumas canções carregam o cotidiano em seu cerne, como “O Cinza”, primeira música a ser divulgada.

Mais um fim de tarde que garoa em SP
Hoje o sol não vai se pôr porque não quis nascer
(O Terno – O Cinza)

Outras parecem viagens de uma mente insana, com maluquices que só adoradores do maluco beleza poderiam expressar, como em “Quando Estamos Dormindo” e “Desaparecido”.

“Brazil” é uma faixa cantada inglês e que fala sobre…vocês sabem, né. E “Vanguarda”, uma das mais experimentais do disco, uma crítica:

Quem vai ouvir não sabe bem distinguir o que é bom do que é ruim
E o que não entenderem vão dizer: vanguarda
(O Terno – Vanguarda)

E, por fim, o sentimento. Os temas mais cantados da música pop (amor, saudade, ilusão e similares) estão em outras canções, como nas baladas “Ai, ai como eu me iludo” e “Eu vou ter saudades”. Essa última uma English Pale Ale com notas de Rolling Stones e Black Crowes.

Porque eu já fiz isso milhares de vezes
Como é que eu nunca aprendi a não gostar das pessoas tão rápido assim?
(O Terno – Ai, ai como eu me iludo)

O Terno foi gravado no estúdio Canoa, em São Paulo. O álbum foi finalizado via financiamento coletivo no Catarse. A banda planejava arrecadar 30 mil reais. Arrecadou 35 mil. O adicional deverá ser usado para a produção de um clipe.

O álbum contém 12 faixas – e não só as 7 supracitadas – bastante originais. Um dos embaixadores do novo álbum d’O Terno é ele, uma das mentes mais brilhantes da música brasileira: Tom Zé. E se Tom Zé recomendou, quem somos nós para não ouvir?

É fortíssimo candidato a disco do ano da música brasileira. Escute já: