Sobrevivendo à meritocracia nos próximos quatro anos (ou mais) de Aécio Neves na Presidência da República

Estocar comida é o básico. Mas, para aqueles menos exagerados, que estão confiantes na vitória fácil de Dilma Rousseff — apesar das últimas pesquisas realizadas pelo Datafolha e Ibope, apontando empate técnico entre os candidatos — segue um esboço da possível realidade pós-eleição.

É provável que você escute muito sobre meritocracia nos próximos anos. Discurso bonito, cativante, inspirador. Fará com que você acredite que, com muito esforço e dedicação, poderá ser o que quiser na vida. Pode, inclusive, ser rico.

Exemplos não vão faltar: o gari que se formou na universidade, a doméstica que comprou a casa própria e o morador de rua que se tornou modelo. Não vamos nos esquecer do Silvio Santos.

Aposto que você já está se derretendo com a meritocracia. Coisa bonita, justa, democrática. Detalhe importante: se você é pobre e continuar pobre por todos os poucos anos que lhe restam, a culpa é sua. Exclusivamente sua. Você não devia ter amado mais, chorado mais, ter visto o sol nascer, como aconselha a música Epitáfio, da banda Titãs. Pelo contrário, devia ter amado menos, trabalhado mais e estudado mais.

Em uma realidade alternativa, onde todos estivessem em igualdade de condições, talvez fosse pertinente pensar a meritocracia como princípio básico de uma sociedade. Mas nem lá, creio eu, no reino da igualdade material, tal princípio se mostraria válido. Alguns simplesmente dão azar e o governo não pode culpá-los pelo seu infortúnio.