Sound City Movie

Após o término de Sound City a maior vontade que se tem é de entrar em um estúdio, tocar e gravar. Até quem não sabe tocar instrumento algum provavelmente sentirá isso, pois é o que o filme passa: o amor pela música.

Dividido em duas partes, Sound City conta em sua primeira metade a história do homônimo estúdio californiano, ícone do rock’n’roll durante décadas. O início, o reconhecimento, a ascensão, o sucesso absoluto e o drástico declínio a partir do fim dos anos 90 com a digitalização da música. Um pouco depois da metade do documentário o filme discorre mais sobre a música em si, a música feita pela alma e por quem se sente realizado em poder, sempre que possível, estar dentro de um estúdio e transformar todo o sentimento carregado em seu interior em ondas sonoras. Com o fechamento do estúdio, Dave Grohl comprou a mágica mesa de som Neve 8028 do Sound City, instalou em seu estúdio caseiro, o 606, e convidou músicos e amigos para sessões de gravações que renderam 11 canções inéditas.

A História do Sound City

A primeira parte do documentário é protagonizada por depoimentos de Tom Skeeter (dono do estúdio até 1992), Keith Olsen (engenheiro de produção), Paula Salvatore (gerente), Rick Rubin (produtor), Rupert Neve (fabricante da mítica mesa de som do estúdio), músicos que marcaram a história do Sound City como Tom Petty, Rick Springfield, Neil Young e mais. É muita gente grande que não cabe tudo em um parágrafo.

Para ter noção da grandeza do Sound City, alguns artistas e os álbuns que ali gravaram: Nirvana (Nevermind), Neil Young (After The Gold Rush), Fleetwood Mac (Fleetwood Mac), Dr. John (Dr. John’s Gambo), Grateful Dead (Terrapin Station), Metallica (Death Magnetic), Slipknot (Iowa), Wolfmother (Wolfmother e Cosmic Egg), Queens Of The Stone Age (Queens Of The Stone Age, Rated R e Lullabies To Paralize), Red Hot Chilli Pepperss (One Hot Minute), Rage Against The Machine (Rage Against The Machine), Tom Petty (Damn The Torpedos, Hard Promises, Southern Accents, Wild Flowers e Songs and Music from “She’s The One”), Arctic Monkeys (Suck it and See), Rick Springfield (Working Class Dog, Living in Oz e Hard To Hold), Pat Benatar (Crimes Of Passion e  Precious Time), Cheap Trick (Heaven Tonight), Elton John (Caribou), Black Crowes (Amorica) e ainda mais! Foi, sem dúvida nenhuma, um templo do rock.

tom petty sound city
Foto: Reprodução

A Digitalização da Música

A queda do Sound City aconteceu em virtude da ascensão da música digital. Em uma época de transição, em que todos os artistas e gravadoras migravam do rolo para o computador, o Pro Tools, principal ferramenta de edição de áudio do mercado começou a substituir o talento musical humano. O estúdio recusou-se a migrar para a tecnologia digital e continuou gravando tudo em fita. Com a banalização da música digital, o Sound City teve que vender tudo o que tinha para pagar as suas dívidas, antes de fechar as portas.

Neil Young é avesso à tecnologia digital. No documentário fala sobre o “lado bom”, em que quando o músico erra uma nota durante a gravação ela pode ser facilmente corrigida pelo computador, muito diferente das gravações analógicas onde deveria ser feito outro take. Sobre o lado ruim, a frase mais marcante é do produtor Rick Raskulinecz:

O lado ruim é que permitiu que pessoas que não deveriam estar numa banda ou no ramo musical virassem ídolos.

Graças ao ProTools os músicos podem hoje gravar discos com orçamentos mais baixos, já que a facilidade de correção é enorme. Da mesma forma, surgiu uma legião de falsos artistas,  utilizando diversos “copiar e colar” em trechos da música pelo programa ou utilizando o Auto-Tune para corrigir a voz naturalmente desafinada.

Uma das grandes cabeças da música, com um ouvido fora de série e que participa do documentário é Trent Reznor (do Nine Inch Nails e vencedor do Oscar de melhor trilha sonora em “A Rede Social”). No documentário, Reznor mostra como aliar a tecnologia e o ProTools à simplicidade e à base de uma gravação. A gravação digital é como a constituição. Surgiu para o bem de todos, porém mentes despreparadas podem fazer de sua utilidade um caos.

Parêntese para uma experiência pessoal:

A primeira vez que entrei em um estúdio, com 17 anos de idade, minha banda não possuía equipamentos caros e de qualidade para gravar uma música que soasse como o rock dos Beatles e dos Rolling Stones que nós desejávamos. Não tínhamos amplificadores valvulados e nem instrumentos Gibson ou Fender. Sendo assim fomos convencidos a usar um simulador de efeitos. Particularmente eu achei genial na hora. Poderia gravar com uma Fender Telecaster e um Vox ac30 utilizando um simples programa de computador e uma guitarra falsa. O resultado, no entanto, não foi nem perto do real som de um amplificador valvulado legítimo que fui conhecer anos depois. Utilizando nosso equipamento mediano da época o resultado seria, creio eu, melhor. Me senti, naquele momento, um cheater. E com a qualidade aquém do esperado pagamos o preço.

paul mccartney sound city
Foto: Reprodução

A Nova Casa da Neve 8028

Após a história do Sound City chegar ao fim, Dave Grohl consegue comprar e levar a mítica mesa Neve 8028 ao estúdio 606, seu estúdio caseiro. A partir de então convida músicos que no Sound City gravaram álbuns e outros amigos para sessões de composições e gravações à moda antiga, no improviso, ensaiando ao vivo e gravando tudo em fita.

Essa parte do filme mostra o processo de criação conjunta e uma camaradagem incrível entre os músicos participantes. Todos que ali estão gravando possuem o mesmo propósito e dividem o mesmo sentimento: a música.

Quando alguém sente algo forte, seja um baterista ou um guitarrista, você se apaixona pela personalidade da pessoa. Você percebe como a pessoa é linda, sabe? [Joshua Homme]

E ainda, diferente do que um simulador pode fazer:

Dois músicos não são iguais mesmo que toquem a mesma música. Dois músicos não são iguais mesmo que toquem do mesmo jeito. [Dave Grohl]

O final do documentário registra um momento apoteótico na história da música. Dave Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear se unem a Paul McCartney para comporem uma música na hora, no improviso. O documentário registra desde as primeiras improvisações até os arranjos finais de uma das melhores músicas da trilha sonora do documentário, Cut Me Some Slack.

Repetindo o que está descrito no primeiro parágrafo, o filme termina e a vontade é de se mandar para o estúdio, compor e gravar. Como se tudo fosse fácil, como se todos pudessem imitar o talento dos monstros que participam do filme. Como se todos pudessem fazer uma obra-prima como Nevermind, After The Gold Rush ou Lullabies to Paralyze no ProTools.

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