Um Século Oito ou Oitenta

Sem senso comum só resta a bipolaridade

O século 21 é controverso, extremista e com pessoas mais preocupadas em procurar “frases para Facebook” do que livros. Hoje mesmo acessei a ferramenta Google Trends para pesquisar palavras-chaves atuais e me deparo com essa. É impressionante o número de pessoas que buscam no Google frases bonitinhas para serem postadas no Facebook. Enfim, deixa isso para lá, o assunto é outro.

A prova da controvérsia social em que estamos passando pode ser resumida em duas matérias que foram tornadas públicas ontem (05/06/13), e que mostra como a sociedade está polarizada, extremista, oito ou oitenta.

Feministas x Magnéticas

Os títulos eram os seguintes: “Cavalheiro ou canalha?” e “Mulheres aprendem a ‘desmunhecar’ em curso para ‘atrair partidão’”. As mulheres estão polarizadas, dividas em extremos. Por um lado, o movimento feminista continua lutando por direitos iguais, e isso inclui o direito de o homem não ter o direito de pagar a conta, abrir a porta do carro ou outra atitude que faz parte do clássico e ancestral “cavalheirismo”, algo que sim, ainda existe, mas que a cada dia que passa morre mais um pouco. Por outro lado, mulheres fazem curso (sim, um curso) para “resgatar a feminilidade”. A criadora do curso ensina as mulheres a terem atitudes como exigir que o homem pague a conta e jamais fazer sexo no primeiro encontro. O curso, que custa mil reais é para tornar uma mulher “magnética”.

Parece não haver consenso entre os dois estilos de vida. As ativistas feministas não aceitam mas sim, a mulher é diferente do homem, a mulher é sim mais bela e não há nada de errado em valorizar essa beleza (Feministas norte-americanas criticaram Barack Obama só porque o presidente disse que Kamala Harris era a mais bela procuradora-geral que o país já teve. Elas gostariam de saber se o presidente falaria o mesmo para um homem). A mulher também é mais sensível emocional e fisicamente, porém, como toda regra, existem exceções. Não sou louco de me achar mais forte que Brienne de Tarth, nem mais corajoso que Anita Garibaldi e nem mais sedento por poder que Cleópatra. Se padrões existem, exceções também.

Cleópatra pegou Júlio Cesar e Marco Antônio. Por pouco também não pegou o Otávio.
Cleópatra pegou Júlio César e Marco Antônio. Por pouco também não pegou Otaviano.

As magnéticas, por sua vez, não aceitam dividir a conta com o homem e esperam que ele seja o principal responsável pelo sustento da casa. Mas, por que não o contrário? Alguém esqueceu que quem governa este país é uma mulher? E quem está à frente da Alemanha, a principal economia da União Europeia, também é uma mulher?

Tabus

Tabus estão prestes a ser derrubados, mas ainda há resistência. A união homoafetiva é defendida pela população LGBT e simpatizantes. Ao mesmo tempo é rebatida por boa parte da população religiosa e conservadora. Quem é a favor defende que o amor não tem sexo, amor é simplesmente amor. Correto. Quem é contra tem como principal prerrogativa a de que família é entre homem e mulher, pois só assim é que há a possibilidade de reprodução. Correto, mas em partes. Realmente, dois homens ou duas mulheres não podem reproduzir naturalmente. Mas, com sete bilhões de habitantes no planeta me parece que a raça humana esteja “um pouco longe” da extinção. O que poderá extinguir o homem são as bombas nucleares, essas que são desenvolvidas com estratosféricos financiamentos por potências bélicas, e não um casamento gay. Completando: até onde sei nenhum casal é obrigado a reproduzir. Sou heterossexual, possuo namorada e não pretendo deixar herdeiros. Serei proibido de casar um dia?

A maconha é outro grande tabu e que, inexplicavelmente, é um assunto que encontra ainda resistência por boa parcela da população brasileira. E boa parcela dessa boa parcela também não possui informação suficiente para saber o que é certo ou errado (conheço pessoas que acham que uma pessoa pode ter uma overdose de maconha, por exemplo). Manifestantes favoráveis à legalização defendem que é um considerável passo para acabar com o narcotráfico. Correto, mas em partes, já que a maconha não é a única droga (ainda) ilícita no país. Conservadores relutam, pois enxergam na maconha, uma planta natural, a porta de entrada para as outras drogas. Correto, mas em partes, já que a tese não leva em consideração o álcool e o tabaco – estes sim de fácil acesso e frequente uso –  por serem drogas lícitas.

Maconha: Planta ou droga?
Maconha: Planta ou droga?

A democracia está se tornando uma grande farsa. Afinal, lutar por um direito é fácil. Difícil é encontrar um bom senso para respeitar o direito do outro. A sociedade só é democrática quando está em consenso e não em conflito de interesses individuais.

Um adágio apócrifo, atemporal e condizente com este exercício de pensamento é “respeite para ser respeitado”. Em outras palavras, se você quer ter o direito de agir e pensar de acordo com sua ideologia, dê este mesmo direito a quem discorda de você.

Seu direito só não pode ferir o outro. Só. E ele só é ferido, quando duas pessoas do mesmo sexo se beijam, se quem assiste está com ciúmes. Ele só é ferido, se alguém estiver fumando maconha, se quem assiste está na fissura para fumar, mas não pode. Ele só é ferido, se uma mulher enxerga um homem abrindo a porta do carro para a namorada, se ela gostaria de estar em seu lugar. Ele só é ferido, se outra mulher enxerga um casal dividindo a conta, se ela gostaria de ser tratada de igual para igual.

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las. (Voltaire)

Voltaire, filósofo francês, defensor da liberdade civil, religiosa e comercial
Voltaire, filósofo francês, defensor das liberdades civis, religiosas e comerciais

Siga La Parola:

http://facebook.com/LaParolaOnline
http://twitter.com/LaParolaOnline