Uma viagem pela moda: a história das malas mais icônicas até os dias atuais

Um elemento extremamente útil e presente em diversos momentos da vida, as malas de viagem são também um produto de muita tradição no mundo da moda. Uma ideia simples e uma função extremamente necessária definem esse objeto: simplesmente levar os bens de um lado para o outro. Entretanto, as malas acabam por carregar também um pouco das histórias de suas próprias andanças e, principalmente, de seus donos e dos objetos que carregam.

É o caso de grandes empresas, responsáveis por criações clássicas que até hoje despertam fascínio até mesmo para quem não conhece sua história ou está inserido no mundo da moda. Isso porque um nome como Louis Vuitton carrega em si um status de luxo que é combinado com a tradição e os métodos de produção quase artesanais e exclusivos. A marca surgiu no século XIX com um jovem artesão que morava na fronteira entre a França e a Suíça e decidiu, aos 14 anos, viajar a Paris para aprender sobre marcenaria.

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Na capital francesa, ele foi contratado como aprendiz de fabricante de baús de viagem, que eram utilizadas para o transporte de bens e mudanças da alta sociedade. A criatividade desse inventor se destacou na criação de novos modelos, que conciliavam a funcionalidade com uma estética que superava qualquer modelo visto anteriormente. Ao inserir estilo e sofisticação em elementos que antes eram meramente funcionais, Vuitton conseguiu chamar a atenção de diversos consumidores e, principalmente, o monarca francês Napoleão III.

Com a clientela famosa, o jovem era trazido ao Palais des Tuileries para criar novos modelos que se adaptassem às necessidades da imperatriz a cada nova viagem. Assim, a fama foi crescente, tornando o design do jovem artesão um dos mais cobiçados na Europa naquele período. O destaque ficava por conta do uso inovador de materiais como o couro, que revestiam as bagagens antigamente produzidas puramente em madeira rústica.

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A preocupação com os detalhes e a maestria em sua elaboração foram os fatores decisivos para a adesão desse público extremamente exigente. Os cantos dos baús possuem as ponteiras de metal, vistas até os dias de hoje e que conseguem garantir uma maior proteção contra os impactos. Além disso, Vuitton também desenvolveu um material impermeável para revestir as malas: uma lona encerada que garantia que fossem resistentes à chuva e à água. O material tinha um cheiro mais agradável que o do couro da época, que ainda não passava pelos tratamentos presentes nos dias atuais, e causaram um fascínio imediato.

A criação da empresa se deu em 1854, com destaque para criações personalizadas para clientes especiais. Elas incluíam, por exemplo, uma mala que virava cama, um baú que se transformava em charrete ou com especificações dependendo de cada bem transportado. É o caso de compartimentos que conseguiam transportar maquiagem, sapatos, caixas de chapéu, elementos frágeis e roupas com eficiência e delicadeza.

Louis Vitton (1))A fama despertou também diversas falsificações, forçando o proprietário a desenvolver um desenho que identificasse suas criações. Vários modelos foram testados até que foi criado o famoso logo “LV” em 1896 e símbolos que traziam um visual de flores, que cobriam a lona. Essas marcas são utilizadas até os dias de hoje e associadas diretamente com um ar de luxo e sofisticação.

Em 1987, quase cem anos depois da criação da marca, a Louis Vuitton se juntou com a Möet et Chandon, fabricante dos requintados champagnes e conhaques, na criação de uma nova empresa focada em bens de luxo. O grupo LVMH (Louis Vuitton – Möet Hennessy) administra hoje marcas como Christian Lacroix, Fendi e Givenchy e se tornou um dos maiores holdings desse ramo específico de consumo, com um faturamento de 20 bilhões de euros em 2010.

Esse comportamento ressalta as novas mudanças do mercado de luxo, principalmente tendo em vista as crises financeiras que abalam o início dos anos 2000. O dilema fica por conta do alto valor agregado a esses produtos e a contenção financeira cada vez mais severa, principalmente nos países do continente europeu.

Esses chamados “Bens de Veblen” trabalham em uma dinâmica oposta à lei da oferta e da procura. Isso porque quanto mais alto seu preço, maior se torna a procura e o interesse por ele, já que eles representam em si um status. É esse mercado que sofre um maior encolhimento em épocas de crise e que, cada vez mais, avança na procura de mercados alternativos. Essa movimentação é evidenciada pela chegada de diversas marcas de luxo ao Brasil recentemente, com destaque para a abertura de centros comerciais como o Shopping JK Iguatemi, em São Paulo.

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O crescimento vem acompanhado também de uma porcentagem cada vez maior de brasileiros pertencentes às classes A, AA e AAA, com rendas que superam R$ 9.745, segundo a FGV. Mesmo com a crise mundial, o faturamento em terras brasileiras nesse mercado chegou a US$ 6,45 bilhões em 2009, segundo a GFK Brasil e MCF Consultoria. O número de milionários superou a Austrália e a Espanha no ano citado, atingindo o décimo lugar no mundo. Entretanto, a principal preocupação se direciona exatamente na também crescente desigualdade social, muito maior por aqui do que em outras nações.

Essas marcas, à sua maneira, buscam contornar as crises e continuar seu legado mesmo em tempos em que seu consumo se torna mais difícil. No caso da Vuitton, uma saída foi a chegada do estilista Marc Jacobs no comando criativo da empresa, ampliando o design das bolsas e iniciando também a produção de uma linha de roupas, que ampliaram o público e a visibilidade do clássico logotipo. Essas mudanças refletem também o curso da história, que por tantos anos teve suas bagagens nobres também adornadas pelo couro e design da criatividade inicial de Louis Vuitton.

Vídeo da CNN sobre o método de produção da Vuitton (em inglês):