Vamos imprimir o almoço?

Há alguns anos atrás pouca gente imaginava que pudesse existir uma impressora que pudesse confeccionar produtos. O tempo passou e as impressoras 3D surgiram no mercado para provar que a imaginação pode ser uma realidade. Agora, o buraco é bem mais embaixo. O que está em jogo não são objetos para o uso humano, mas alimentos para o consumo humano.

A vida imita a arte. Toda tecnologia ainda inexistente no planeta, mas já apresentada na tela do cinema, da televisão ou em página dos livros é uma possibilidade. Esta história de impressão de alimentos nada mais é que uma cópia de algo que um dia foi arte. O “replicator” do Star Trek é a fonte que primeiro vem à minha mente. Me ajudem a exemplificar melhor depois.

Tea, earl grey, hot.

O Engenheiro e a NASA

O engenheiro mecânico Anjan Contractor está trabalhando para transformar essa visão em realidade. Sua empresa, Systems & Materials Research Corporation, recebeu uma ajuda de 125 mil dólares da NASA para a criação de um protótipo de um sintetizador universal de comida.

Contractor é um visionário que acredita no dia em que toda cozinha terá um sintetizador de comida. Muito pelo fato da durabilidade do alimento e pelo exponencial crescimento da população global.

Em vez de cartuchos de tinta, cartuchos de pó e óleos serão os geradores dos alimentos, que possuirão uma data de validade de até 30 anos. Contractor também acredita que não será possível, por meio de produções naturais, alimentar uma população de 12 bilhões de habitantes no futuro e por isso deverá acontecer uma revolução na forma com que nos alimentamos. Um prognóstico possivelmente equivocado. Como já abordamos em outro texto, quase metade da comida produzida no planeta é desperdiçada. Portanto, existe como alimentar 12 bilhões de bocas, basta acabarmos com o desperdício.

A ambição de ver o sintetizador de alimentos nos domicílios não é escondida, mas é apenas para um segundo momento. Primeiramente, o sintetizador, se funcionar, servirá aos astronautas em missões espaciais extremamente longas.

“Viagens de longa distância no espaço requerem 15 ou mais anos de vida. Nossa maneira de trabalho é colocar carboidratos, proteínas e macro e micro nutrientes em forma de pó. Então nós retiramos a umidade e, desse jeito, (o alimento) irá perecer por talvez 30 anos.” (Anjan Contractor)

Gastronomia sintética ao alcance de todos

Ainda não se sabe se o sabor das refeições impressas terão o gosto dos alimentos tradicionais. No entanto, a esta altura do campeonato é razoável pensar que nada é impossível e que você, que vive às custas de restaurante, macarrão instantâneo e comida congelada poderá ser um magnífico cozinheiro no futuro. Bastará saber apertar os botões.

A tecnologia complemente – em certos casos substitui – o talento, é inegável. Você pode não entender de abertura, ISO e velocidade, mas pode fazer excelente fotos usando o Instagram ou o Photoshop. Pode não saber a escala pentatônica, mas pode gravar um sucesso radiofônico usando samplers e simuladores em programas de edição de áudio. E, futuramente, você poderá até não saber fritar um ovo em uma frigideira, mas saberá imprimir uma refeição com todos os nutrientes necessários para o corpo humano. God Bless Science (sentença contraditória).

Parece plástico, mas dizem que é saudável
Parece plástico, mas dizem que é saudável
Imagem: Reprodução

Os Insetos e a Proteína

A companhia holandesa de tecnologia, TNO, esboçou como seriam “cozinhadas” as refeições sintéticas em um vídeo. Na visão da empresa, os ingredientes alternativos para a impressão da comida incluem:

Algas
Lentilha d’água
Ervas
Sementes de Tremoço
Folhas de Beterraba
Insetos

Sim, insetos. Estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) compararam os níveis de proteína em diversas fontes do nutriente. Foi constatado que, o gafanhoto-do-milho, inseto encontrado no México e na Guatemala, possui de 35 a 48 gramas de proteína de proteina a cada 100g, enquanto a carne de gado, principal fonte de proteína do ser humano, contém entre 19 e 26 gramas. E este é apenas um exemplo.

Principalmente no ocidente, comer insetos é um grande tabu – e pouco saboroso. O projeto esboçado pela TNO permitirá que possamos tirar toda proteína necessária para o corpo humano de invertebrados que até então são vistos como “pragas”.

De quebra, a comida terá um design moderno que em momento algum lembra um inseto. Com certeza mais um campo de trabalho disponível para os queridos amigos que fazem design de produtos.

Veja o estudo completo em http://www.fao.org/docrep/018/i3253e/i3253e.pdf

proteínas-FAO-insetos

Dieta Personalizada

As impressoras de comida 3D da TNO prometem ser nutritivas e versáteis. Será possível escolher quais tipos de nutrientes você quer consumir na refeição, de acordo com suas necessidades. Por exemplo, um atleta precisa de muito mais carboidratos do que uma pessoa grávida, que por sua vez, precisa de muito mais ômega 3.

Ainda é muito cedo para sabermos se a comida 3D será saborosa ou saudável, uma vez que ainda não há protótipo. Mas, convenhamos que, nutricionalmente falando, será no mínimo igual a um hamburguer congelado comprado em uma conveniência, esquentado no forno microondas e acompanhado de refrigerante.

Assista abaixo ao vídeo produzido pela TNO, explicando as vantagens – se é que elas existirão – da comida sintética:

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