Vingadores: A Era de Ultron; continuação tenta ser mais madura, mas esbarra em seus próprios pés

O reflexo das próprias escolhas. Aceitar que cada uma implica em perdas e aprender a conviver com as mesmas. A complexidade dos dilemas é o ponto de partida para “Vingadores: A Era de Ultron”. O ambiente criado, assim como os fatores determinantes para tais crises existenciais, tornam a trama mais madura em relação ao antecessor, mas o filme dos maiores heróis da Terra peca nos excessos, nos sentimentos artificiais e no descaso com os ingredientes que deram certo na primeira aventura do grupo.

Novamente, o Homem de Ferro é o cerne dos Vingadores, e sua tentativa de lidar e conviver com atos passados, inclina os outros integrantes a buscarem respostas para as mesmas perguntas. Nesse conflito doloroso de consciência, pensando que estaria ajudando o mundo a tornar-se um lugar melhor, Tony Stark (Robert Downey Jr.) une mentes com o já problemático Bruce Banner (Mark Ruffalo) para criar uma Inteligência superior, capaz de tomar decisões e substituí-los na missão de proteger a Terra. Assim nasce Ultron (James Spader).

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Spader, diga-se de passagem, revelou-se uma excelente escolha para o papel de principal antagonista da produção. O ator, que atuou de corpo presente e teve os movimentos e feições substituídos pela técnica de captura de movimentos (auxiliado pelo mestre da arte Andy Serkis, que também atua no filme, mas em carne e osso como o personagem Ulysses Klaw) é excepcional, ainda que o seu vilão não acabe sendo representando de fato um medo iminente no roteiro. De qualquer forma, sobram ironias, piadas, sedução e lógica dignas de uma inteligência que busca ser soberana e perfeita no mundo habitado pelos heróis. Visto apenas por esse prisma, A Era de Ultron aparenta uma interessante ambiguidade.

Mas mesmo com as discussões e revelações iniciais da imprensa de um filme tendo um tom “mais sombrio”, “A Era de Ultron” passeia por fórmulas que deram certo no primeiro filme. As clássicas tiradas de Hulk e Thor (Chris Hemsworth), o humor e a seriedade do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), o estilo de ser da Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o início de tensão que culminará nos eventos de “Capitão América: Guerra Civil” entre Steve Rogers (Chris Evans) e Tony Stark. Todavia, existem falhas e excessos. Tanto “Homem de Ferro 3” quanto “Thor: O Mundo Sombrio” são completamente ignorados nos eventos ocorridos em “A Era de Ultron”. Além disso, Joss Whedon parecia querer emular a destruição insuperável de Michael Bay nos cinemas. Ação em grau superlativo, que em certas cenas, até apresentaram coreografias e visuais bastante impressionantes, mas que acabam perdendo sentido e fôlego de tantas repetições.

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As adições dos gêmeos Wanda e Pietro Maximoff (Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson) fluem de formas diferentes. Enquanto Wanda de Olsen carrega uma presença marcante no longa, o Pietro do Taylor-Johnson é apenas correria, apatia e um engodo para o decorrer da trama. Outro oposto a ser comentado é a relação entre o Hulk e a Viúva Negra. O sentimento crescente e aparentemente datado de algum espaço-tempo não condicionado em eventos anteriores, por vezes, soa artificial tal como o próprio Ultron. A química entre Ruffalo e Johansson é convincente, mas os motivos para obterem mais um preenchimento no roteiro é uma incógnita.  Já o surgimento do Visão (Paul Bettany) é um alento para deixar qualquer nerd em êxtase. O personagem ganha vida para tomar no futuro, lugar cativo para os espectadores.

A Marvel chega ao clímax dos 141 minutos de filme de forma econômica e podendo pender para diversas possibilidades. Não há informações secretas espalhadas ou heróis novos surgindo no canto da tela ou em mensagens subliminares. Cada qual das linhas introduzidas durante a história pode ou não possuir alguma ligação com novos horizontes, e isso determina o sucesso da Casa das Ideias nos cinemas. Sucesso creditado de anos de trabalho intenso. Talvez, aquilo que falte para os maiores, serem os melhores heróis da Terra, seja apenas uma consciência e uma aceitação de aprender a conviver com outros filmes concorrentes sem almejar competir em grau de escala consigo mesmo.