Wander Wildner volta ao rock e apresenta o álbum ‘Existe Alguém Aí?”: ouça

Wander Wildner voltou. Não que tenha se escondido, seu último álbum ‘Mocochinchi Folksom’, foi lançado em 2013, mas o músico passou uma temporada em Lisboa e voltou há pouco para Porto Alegre. Tempo suficiente para um novo álbum ser registrado.

‘Existe alguém aí?’ é o oitavo álbum solo de estúdio da carreira do músico que já foi punk, romântico, folk, brega e agora volta ao rock mais cru, mas como sempre, com uma novidade: com alto teor político envolvido.

Capa + Contracapa do disco | Arte: Eloar Guazelli
Capa + Contracapa do disco | Arte: Eloar Guazelli

Todas as dez faixas foram compostas por Wander e foram forjadas a partir de uma visão crítica da sociedade atual e do estado atual em que está a cidade de Porto Alegre. “É meu primeiro disco conceitual”, como ele explicou em uma entrevista à Zero Hora.

O disco foi gravado por Thomas Dreher, em Porto Alegre e mixado por Álvaro Alencar, em Nova York. Lançado em 2 de março deste ano, pelo selo Fora da Lei, está disponível para audição online, mas também será lançado em vinil e em cd. Acompanha Wander Wildner nesse novo álbum um grande time: Gustavo Chaise, Cesar Castro, Jimi Joe, Arthur de Faria, Mauricio Chaise, Flavio Flu Santos e Rust Costa.

Ouça abaixo:

O release abaixo foi escrito por Jimmy Joe, guitarrista de Wander Wildner e que seria suspeito para falar se não estivesse acertado tanto nas palavras.

Wander Wildner faz a mágica da reinvenção mais uma vez em “Existe Alguém aí?”

Ouvidos atentos: tem disco novo de Wander Wildner na praça. Existe Alguém Aí? é o seu oitavo disco solo que chega, como aconteceu com seus trabalhos anteriores, muito diferente de seu predecessor, Mokochinchi Folksom. Esses estranhamentos e turning points musicais na carreira de Wander são ousadias de um artista inquieto que sempre soube a hora de dar a volta por cima e se reinventar a partir de sua própria trajetória. São também movimentos que não dispensam a essência do trabalho musical de Wander desde que começou com os Replicantes, há mais de 30 anos, ao mesmo tempo que incorporam novas vivências musicais às quais o artista se expõe sem pudores, absorvendo desses novos contatos, virtuais ou reais, elementos necessários para esse eterno recriar-se. Como ensina o I Ching, o milenar oráculo chinês das mutações, tudo está em constante mudança. É uma questão orgânica. Tudo isso que parece mais retórica do que práxis se aplica a Existe Alguém Aí?

Fiel ao título referencial pinkfloydiano (“is there anybody out there?”), Existe Alguém Aí? apresenta 10 novas canções que em boa parte primam pelo favorecimento de tons sombrios já a partir da literal e sonicamente tormentosa Réquiem Para Uma Cidade, que abre o novo disco. Esse clima musical e poético de constatação da inevitabilidade de incertas frustrações existenciais tem continuidade em Naquela Noite Ela Chorou, que se estende por Uma Angústia Presa na Garganta e Saudade. As sonoridade densas das bases instrumentais cruas e ao mesmo tempo carregadas de dinâmicas e intenções muito bem elaboradas acentuam a idéia geral de Existe Alguém Aí? Mas os fãs de Wander não precisam se assustar: o cara que cunhou hinos românticos como Bebendo Vinho ou Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo não abandonou suas influências primordiais. Enquanto os ouvidos vão se acostumando às sonoridades rasgadas dessas canções que beiram um pós-existencialismo pela ótica do século 21, Wander também nos oferece a chance de sonhar nos versos e melodias de outras novas e belas canções como Numa Ilha Qualquer, Plantar, Colher e Depois Dançar e Ela é Uma Phoenix.

Existe Alguém Aí? é mais um exercício bem sucedido de criação artística por si só e de vigorosa reinvenção do ritual do habitual de Wander Wildner que sempre tem sido o de não marcar passo, mas sim procurar novos nortes para seguir, ousando, correndo riscos como quem anda na corda bamba sem rede de proteção. Enquanto se reinventa e troca de pele mais uma vez, em seu oitavo disco solo, Wander mantém intacto o pathos que faz dele (e, por conseqüência, de sua obra) um dos poucos nomes que conseguem com que o rock ainda tenha sentido em tempos musicalmente liquidificados.

JIMI JOE
PORTO ALEGRE, VERÃO 2015