Conversando com o Azeitona

Quando se fala de arte, não é a academia tradicional que será responsável pelo sucesso profissional. Exemplificamos com João “Azeitona” Vieira, ilustrador atualmente cursando sua terceira faculdade, com nenhuma das anteriores completas. Ilustrador de profissão, Azeitona é daqueles que passavam boa parte das aulas desenhando. “Sofri com isso até pouco tempo atrás na faculdade”. Óbvio que o “sofri” é brincadeira, já que o tempo de desenho, se somado, certamente resultará em muito mais horas/aula do que qualquer curso universitário.

Azeitona está dando aula de desenho na Asimov, a oficina de autopublicação que a Arteficina está promovendo em Passo Fundo. Acompanhando alguns minutos se nota a profunda percepção que Azeitona tem sobre desenho e histórias em quadrinhos. Ouvir uma aula do Azeitona é garantia certa de aprendizado e aumento do gosto pela arte. Eu que desenho menos que Cyannide & Happiness, em poucos minutos aprendi bastante coisa. Se não na parte técnica do desenho, na parte de como contar a história através de quadros, algo que se aproxima muito com a direção de um filme.

Azeitona
Azeitona ensinando como se faz
Foto: La Parola

O começo de tudo:

“A desenhar você começa desde pequeno. Não é assim, ‘toda a vida quis desenhar’. Sempre teve uma facilidade, desenhava bastante no colégio e quando vê você começa a desenhar mais frequentemente e acaba tento um resultado que você gosta.”

Sobre o trabalho:

“O que está acontecendo é que estou tentando dar um direcionamento diferente. Eu tinha um posicionamento antes que era muito mais para atender o mercado publicitário e um pouco do mercado editorial. Agora estou mudando realmente o foco a ponto de fazer um direcionamento na hora de preparar a galeria virtual, portfólio virtual. É bem para quadrinhos o foco.”

O mercado de quadrinhos:

“O mercado de quadrinhos está mudando e está muito bom. A gente nunca teve um momento tão bom nos quadrinhos nacionais, mas ainda assim não é o suficiente para viver de quadrinhos aqui. O que paga as contas se você já não é um cara reconhecido, com bastante trabalho, são os trabalhos de freelancer nos mercados publicitário e editorial.”

O desenho coletivo:

“Temos um estúdio em Porto Alegre, o estúdio Sofia. A ideia do estúdio para todos desenharem juntos é antiga. Eu dava aula na Quanta Academia de Artes, em Porto Alegre, e tinha alguns amigos que davam aula também e a gente sempre comentava que a Quanta já possuía um espaço para estúdios. Sempre teve a ideia. Aí a Quanta fechou e “por que não agora?”, vamos alugar um espaço e fazer o estúdio. Aí eu, Mateus Santolouco, Rafael Corrêa, Carlos Ferreira e o Fábio, o único não desenhista do estúdio, resolvemos nos reunir para alugar a sala. Desde essa época que eu tomei um direcionamento mais para quadrinhos, e realmente apareceu mais trabalhos de quadrinhos em relação aos trabalhos publicitários e editoriais, só que não paga do mesmo jeito.”

Para os quadrinistas:

“Tem que ter bastante material para mostrar que tu estás trabalhando, com o traço melhorando e aprimorando as habilidades de contar uma história, e aparecer bastante.” Aparecer bastante significa se sujeitar a fazer um trabalho condicional, recebendo uma porcentagem variável se o trabalho vender, e não receber um valor fixo por edição ou página.

“O foco tem que ser sempre o trabalho. Se o trabalho for bom e tu conseguir mostrar ele, vai gerar interesse e vão te trazer mais trabalhos legais. Tem que focar no trabalho e desenhar bastante sempre. Tem casos de quadrinistas que estão ganhando muito dinheiro sim. E são reconhecidos mundialmente em feiras de quadrinhos. E isso é maravilhoso, o cara tem grana, reconhecimento profissional e faz o que gosta. É tudo que o cara quer profissionalmente em qualquer área, não só em quadrinhos”

Em andamento:

Brandnew nostalgia
João Azeitona foi convidado para participar do projeto Brandnew Nostalgia, que é um grupo formado por 15 ilustradores de todo o mundo. Através do kickstarter, plataforma de arrecadação de fundos, o Brandnew Nostalgia irá lançar um livro. Neste livro, cada participante terá 10 páginas para ilustrar qualquer trabalho, de forma toda livre, desde histórias em quadrinhos a ilustrações avulsas. O livro pode ser adquirido  em http://www.kickstarter.com/projects/bnn/kaboombox-volume-one.

Ashcan Allstars
Azeitona também participa do Ashcan Allstars, que segundo ele “é um pessoal menos do underground, que trabalha já com grandes empresas e que estão afim de desenhar outras coisas”. Basicamente é um blog de sketches de 22 ilustradores de diferentes países com temática semanal.

O trabalho mais marcante:

“Sem dúvida nenhuma, as revistas que fizemos em 2010 e 2011, a trilogia dos Zines. Supreme, Extreme e Obscene. A gente mesmo custeou e rateou. Pra gente foi muito foda. A gente não ganhou dinheiro nenhum ainda, só pagamos os custos, mas está maravilhoso. A tiragem foi 500 de cada zine. Ainda tem bastante revista, mas está com quase tudo vendido. E ano que vem a gente quer fazer mais alguns projetos. Como praticamente todo dia a gente se vê, começam as ideias.”

Asimov:

“A Arteficina veio através da Asimov. A Asimov a gente montou em Porto Alegre. A gente estava no estúdio e vagou uma das salas, no 2º andar da casa. A gente tinha esse negócio de ensinar a autopublicação, a fazerem, criarem, desenharem, editarem as próprias histórias. Então, vagou a sala e a gente abriu o curso. Eu, o Carlos Ferreira e o Lobo, ainda esse ano. A primeira turma de autopublicação se encerrou há poucas semanas. Tem outros cursos também, eu dou o curso de desenho básico, desenho avançado e a parte de desenho do curso de autopublicação. Depois a gente teve a ideia de podermos abrir e oferecer cursos de outras coisas. Hoje tem curso de mágica, carimbos para tecidos. É um espaço onde existem oficinas para movimentar um pouco essa coisa toda.”

Arteficina:

“Eu já tinha dado uma oficina em Carazinho com o Daniel (Confortin, membro da Arteficina). Já conhecia ele e a história nunca morreu. A gente conversou durante uns dois, três meses, começou a amadurecer a ideia e até que aconteceu. Acho imprescindível esse tipo de iniciativa. A primeira vez que vim dar a oficina sozinho aqui e a dar uma palestra sozinho só falando sobre autopublicação eu tinha falado para o pessoal: ‘Aproveitem esse tipo de iniciativa de fazer movimentar’. Na época que eu estava aqui não tinha, era uma manifestação muito informal.”

João Azeitona volta para Passo Fundo dia 20 de outubro para outra oficina de desenho da Asimov. Além das fotos das ilustrações abaixo, todas do caderno pessoal de Azeitona, ganhe tempo vendo outras ilustrações em http://azeitona.deviantart.com/ e http://www.azeitona.daportfolio.com.