Publicamente avesso a tecnologias digitais em gravações musicais, Neil Young não é assim por teimosia, mas por convicção. Muitas teorias a respeito se alastram e são debatidas, mas a maior prova para demonstrar a diferença na qualidade de gravações e a superioridade do modelo analógico na hora do registro é o produto final. Coloque Psychedelic Pill ao lado de qualquer disco de rock gravado digitalmente no século XXI e verá a diferença. Notoriamente quando se escuta se sente mais a presença das guitarras e dos outros instrumentos. A impressão de que está acontecendo um show direto dos alto-falantes é inquestionável. É a música no seu modo mais puro, com mais alma e menos auto-tune.

Seria Neil Young mais um velho ranzinza com pensamentos eruditos? Longe disso! Diferente de alguns atores globais, esses sim teimosos e receosos com as revoluções tecnológicas, Neil Young usa espertamente a internet a seu favor. Para cada uma das nove canções de Psychedelic Pill, foi produzido e postado no youtube um vídeo com imagens de bastidores, cenas de filmes antigos, imagens caleidoscópicas, cenas de estradas et cetera. Alguns vídeos inclusive foram postados antes do lançamento do disco. Ainda, em 24 de outubro de 2012, 6 dias antes da data oficial de lançamento, o álbum foi transmitido na íntegra pelo site oficial de Neil Young. No mesmo dia, vazou na internet, para a alegria dos piratas digitais. Inteligentemente, Neil Young consegue cativar fãs de diferentes gerações. Neil Young tem 67 anos. Eu, 25.

Muitas das canções de Psychedelic Pill surgiram em jam sessions durante a gravação do disco Americana, uma coletânea de folksongs regravadas em versões do Neil Young com a Crazy Horse, no mesmo ano. Certamente esse é um dos motivos que fazem este álbum soar tão natural. Foi lançado oficialmente em 30 de outubro de 2012, pela Reprise Records, selo da Warner Bros, em diferentes formatos: cd duplo, vinil triplo, digital e blu-ray.

Escalação de Neil Young & Crazy Horse:

Neil Young: Guitarra/Vocal
Frank “Poncho” Sampedro: Guitarra
Billy Talbot: Baixo
Ralph Molina: Bateria

Neil Young com a Crazy Horse em Albuquerque, EUA.
Foto: Steve Snowden / Getty Images

 

Faixa a Faixa
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1. Driftin’ Back

Um começo acústico, bem de leve, seguido de minutos e mais minutos de solos e guitarras com uma atmosfera psicodélica. Após cada verso um interlúdio diferente sem mudanças rítmicas visíveis. São 27 minutos logo na primeira faixa, quebrando qualquer paradigma musical contemporâneo. Deixe rolando Driftin’ Back enquanto faz qualquer outra coisa. Não interessa o que estiver fazendo, esses 27 minutos de som irão te acompanhar naturalmente e não te farão querer trocar de músicas após 4 minutos de duração, algo que geralmente se faz com música ruim e repetitiva. Driftin’ Back é também uma nostalgia.

Don’t want my mp3
I’m driftin’ back
[…]
When you hear my song now
You only get 5 percent
You used to get it all…

2. Psychedelic Pill

Não é so no nome. Psychedelic Pill já começa psicodélica, carregando durante toda a música um efeito phaser. A guitarra suja na introdução lembra bons tempos rock’n’roll de Neil Young com a Crazy Horse, com algo de Cinnamon Girl no riff.

She loves to dance and she loves the action
Wherever the party goes
She’s looking for a good time

3. Ramada Inn

Mantém a guitarra suja e onipresente de Neil Young na introdução, muito parecido com Hey Hey, My My, caminhando para um solo e voltando para dedilhados e nuances calmas durante os versos. Com mais de 16 minutos de duração, também intercala entre os versos solos e dedilhados, com o ritmo sempre seguro de Ralph Molina.

Every morning comes the sun
And they oth rise into the day
Holdin’ on to what they’ve done
She loves him so
She does what she has to

4. Born in Ontario

Neil retorna às suas raízes canadenses cantando essa música em homenagem ao local em que nasceu e passou seus primeiros anos de vida. Ontario é um estado do Canadá, cuja capital Toronto, é o berço de Neil Young. As guitarras corpulentas e salientes continuam ritmando a música.

This old world has been good to me
So I try to give back and I want to be free
I was born in Ontario

5. Twisted Road

Aqui, Neil Young homenageia os músicos de seu tempo. A primeira frase deixa isso bem claro: “First time I heard ‘Like a Rolling Stone’ I felt that magic and took it home”. Na música e no vídeo, Neil faz referências a Grateful Dead, Roy Orbinson e Bob Dylan. Twisted Road é um passeio aos tempos antigos da música, aos anos 60 e ao auge da música folk e do rock’n’roll.

Walkin’ with the devil on a twisted road
Listenin’ to the Dead on the radio
That old time music is to soothe my soul
If I ever get home I let the good times roll

6. She’s Always Dancing

Maravilhosa introdução em harmonia vocal com os outros instrumentos aparecendo pouco a pouco até serem sincronizados, ditando o ritmo da música. She’s Always Dancing possui coros vocais durante os versos, misturando a beleza das harmonias com a sujeira e o peso das guitarras. Um lindo solo no meio da música mostra o que é um timbre de guitarra de verdade. É notório o som das válvulas flutuando pelas ondas sonoras. Coisa linda.

She wants to live without ties to bind her down
She wants to dance with her body left at ground
She wants to spin, and she lives in her own world
She wants to dream like she was a little girl
She’s always dancing

7. For The Love of a Man

Quase no fim do álbum há essa balada,sem as guitarras corpulentas das músicas anteriores. É o momento mais devagar do álbum. Uma clássica balada em que baixo e bumbo dão as mãos e não se largam até o final. Porém, quando é com Neil Young à frente, tem seus diferenciais.

For the love of man
Who could understand
What goes on
What is right and what is wrong
Why the angels cry and the heaven’s sigh
When a child is born to live
But not like you and I

8. Walk Like a Giant

O primeiro single de Psychedelic Pill foi conhecido através de um vídeo, com uma versão de pouco mais de 4 minutos. Surpresa foi quando Neil Young e a Crazy Horse tocaram Walk Like a Giant ao vivo, antes ainda do lançamento do álbum, em uma versão de 16 minutos. Essa versão é a oficial e a que está no álbum. Mesmo o álbum não demonstrando nenhum momento abaixo do esperado, Walk Like a Giant é um dos pontos altos, um dos destaques, um musicaço!

So the moment came,
And the big sky rained
And a pool of fire
Served in my desire
When I think about how good it feels
I wanna walk like a giant on the land

9. Pyschedelic Pill (Alternate Mix)

A derradeira faixa do disco é uma versão alternativa de Psychedeli Pill. Basicamente a diferenças da versão é a inexistência do phaser que permeia toda a música original. Aqui, Neil Young e a Crazy Horse encerram o disco da maneira que gostam, mais crus do que nunca.

 

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