Sobre fotos sem maquiagem e outras coisas

Com todo esse alvoroço acerca desse desafio das mulheres, existem algumas ideias que vem me atormentando. Não que esta humilde opinião valha alguma coisa (não deve valer), mas sempre é interessante exteriorizar uma ideia incomodativa. Não sei qual foi (ou é) o propósito de tudo isso, talvez uma tentativa de mostrar uma beleza que não saia com água e sabão, alguma coisa mais real, vai saber. Acredito ser uma proposta extremamente válida, apesar de que nesta opinião (minha, no caso), ela não alcançou seu objetivo, se este era o de mostrar uma beleza mais palpável. A real beleza, a maior demonstração de feminilidade, a sedução pura e simples, está na mulher quando…

…ela acorda (risos ao fundo). Me dirão: “Isto é ridículo. Quando ela acorda? E a cara amassada? Os cabelos tipo ninho de rato? Tudo virado no djanho?”. É. E não esqueça do bafo matinal, do suor seco (se foi uma noite animada) e todas essas coisas que fazem parte de uma bela manhã. Só que não pode ser qualquer manhã. Precisa ser aquela manhã que você acorda um pouco antes dela. Um domingão ou um feriado de preferência, daqueles bem lesados, que ninguém precisa realmente acordar, só acorda naturalmente. Nesse momento, quando a pessoa ainda está tentando descobrir quem é, aonde está, esse tipo de pergunta pertinente que faz bem saber antes de levantar, você olha pro lado e vê. Não só olha, mas vê. O corpo enrolado, os lençóis não tem mais lado, o suave arquejar das costas. E num instante as pontas dos dedos estão percorrendo aquelas costas, só o suficiente para dar um calafrio, mal encostando na superfície, uma compulsão de tocar a pele, mas não o suficiente para acordar, só passar, do mesmo jeito que uma brisa num dia frio. Sem perceber, ela está sorrindo. Este é o momento. Instantâneo. Sublime. Efêmero demais pra ser capturado por uma fotografia. Talvez seja isso mesmo que o torne tão bonito. A captura dessa imagem estragaria o momento, que vai além do mero contato, é um momento de conexão. Compreensão. Iluminação. Muitos substantivos com ão. Maldição. E este é um belo exemplo de como um momento desses pode esvair-se entre os dedos.

Marley, the Bob uma vez disse que o sorriso é a curva mais bonita de uma mulher. Talvez ele estivesse pensando nesse tipo de coisa. Sei lá, talvez não. Eu gostaria de acreditar que sim, porque é simplesmente sensacional. Sua mente entra num êxtase, e você nem sabe direito o porquê, só sente aquilo te inebriar de uma maneira estranha. É um momento de satisfação, de felicidade.

E não há necessidade dela, parafraseando o Prof. Clóvis de Barros Filho, ser “portadora de um grande capital estético”. Embora ajude, não é uma condição, a situação é independente de qualquer padrão. E esses são mais ãos.

Quer ver beleza de verdade? Abra os olhos.