Não faça isso com o mundo, Neil Young

Neil Young é um compositor único. Criativo e instigante, sempre costuma a passar uma mensagem em suas músicas. Em toda a sua discografia eu desconheço uma composição vazia, sem sentido, perecível.

Definitivamente, Neil Percival Young é um dos meus ídolos. Sou fã. Um fã com idade para ser seu neto. Seria demais, aliás, se eu pudesse ter um terceiro avô e ele fosse o Neil Young. Mas aí os amiguinhos de meu filho, ou os bisnetos de Neil, não poderiam ouvir suas épicas canções em suas playlists do Spotify ou outro serviço de streaming qualquer. E eu teria que chamá-los todos em minha casa, colocar um CD ou vinil para tocar e tentar prender a concentração de uma geração que se entedia em míseros 9 segundos. Seria difícil, mas como acredito no seu som, seria possível também. Porém, por que dificultar?

Outro caminho seria gravar CD’s e lançar para a gurizada, ou ainda passar arquivos em MP3. Mas, convenhamos, com toda a facilidade que existe hoje em escutar música a um clique, qual a motivação que um pré-adolescente teria para fazer do jeito difícil? Eu poderia argumentar que eles estariam ouvindo um dos melhores músicos do mundo, mas nem todo mundo se interessaria. Possivelmente alguém que iria curtir muito estaria deixando de conhecer a obra do Neil Young por pura preguiça ou inconveniência. Isso seria péssimo para uma geração!

Portanto, Neil Young, dê mais uma pensada antes de tirar as suas músicas dos serviços de streaming. Não é moral de cueca. Quem sou eu para mudar sua opinião! Por isso que faço um pedido e não uma ordem. Pense em nós, fãs, e que um dia serão pais e que gostarão que os amigos de nossos filhos também conheçam Neil Young.

Tudo bem que você acha a qualidade do streaming uma bosta. Mas, provavelmente, você estará privando uma geração de ouvir o quão foda você é. E eles se certificarão disso mesmo com essa qualidade horrível. E aí quando comprarem uma edição física do disco irão explodir os miolos ao ouvir o solo de Down By The River.

https://youtu.be/y1gxkRve4Q0

Por favor, não seja um dos responsáveis por prevenir que as novas gerações conheçam música boa e honesta. Já estão fazendo isso com as músicas dos Beatles e é, talvez, um dos motivos para que a cada ano menos crianças tenham acesso à maior banda do mundo.

Streaming não é o caminho final, é um primeiro passo. Uma ferramenta maravilhosa que permite que a gente conheça milhares de artistas que nunca ouvimos falar, ou que não tivemos a oportunidade de conhecê-los. Além do mais, toda vez que viajamos e ficamos um tempo fora de nossas casas, fica meio fora de mão levar os discos. Nem todo mundo tem uma vitrola portátil. Ou um discman. É possível ainda que alguns rádios de carro do futuro nem tenham mais entrada USB, apenas entradas auxiliares para que as pessoas ouçam diretamente em streaming!

Se tem algo que aprendi com Neil Young, principalmente após ouvir o belíssimo A Letter Home, é de que a criatividade e a boa ideia superam as limitações técnicas. A qualidade sonora é importante, mas sua música supera qualquer servicinho de streaming mixuruca.

Todos nós, fãs do senhor, continuaremos a ouvir suas músicas da maneira mais adequada. Seja em CD, em vinil, em FLAC ou diretamente do PONO. Mas, e se bater aquela vontade incontrolável de escutar Hey Hey, My My quando estivermos Out on the Weekend e Far From Home? Mostre pra nós que você achou seu Heart of Gold e seja bom com as novas gerações. Keep on Rockin’ in The Free World!

PS: Esse texto foi escrito após Neil Young publicar em seu facebook que irá retirar toda a sua discografia dos serviços de streaming não devido à baixa remuneração, mas pela baixa qualidade sonora que o serviço oferece. Pra mim, não faria diferença, tenho meus próprios meios para ouvir, mas não sou daquelas pessoas que pegam os artistas para si e que não gostam que outras pessoas o ouçam. Penso diferente, penso que quanto mais Neil Young, melhor, independente de como a audição seja feita.